Caetano, um Grande Brasileiro
Por Ildásio Tavares, de Salvador
As novas gerações acostumaram-se a julgar Caetano Veloso como cantor e compositor e por suas posições polêmicas que atraem a mídia que nele acha um prato feito para o sensacionalismo.. Essa juventude desconhece a formação política e, porque não, filosófica deste que é, acima de tudo um grande brasileiro; um amante profundo deste país; pelo qual já deu uma imensa cota de sofrimento e sacrifício; pelo qual já fez declarações do maior afeto e dedicação, um dos seus construtores.
Recordo as pungentes cartas de saudade que ele enviava de Londres para o Pasquim, proféticas porque logo eu fugia, para não ser frito. Caetano soltava sua mágoa de estar longe de sua terra, sua luz, seu calor, banido por uma ditadura que combatera com a potente arma de sua palavra musical o que lhe valera prisão, e maus tratos, confinamento em Salvador. É proibido proibir, ele dissera. O que ecoa, mais ainda hoje, nesta tentativa do partido no poder de cassar a livre expressão do pensamento.
Tudo certo como dois e dois são cinco. Caetano disse num momento de para frente Brasil. Alegria Alegria é mais que uma canção, é o hino libertário da contracultura no Brasil. A mais elementar pesquisa revelará a imensa contribuição de Caetano à cultura brasileira. Em um artigo publicado na Revista Ângulos, ele conceitua com perfeição o que chama de cerco ao bom gosto burguês na música popular brasileira, uma forma higiênica de reforçar a doutrinação dominante e faz uma análise vertical das interações entre arte e ideologia.
Membro da mesma geração, comecei a publicar na Revista Afirmação de Hélio Rocha onde esquerdas e direitas se misturavam. Caetano começava escrevendo sobre cinema. Haroldo Lima sobre política. Orlando Senna sobre o Concretismo e eu sobre filosofia nos idos de 1969, meninos letrados, já com alguma cultura e exercitando o pensamento. Nada do que se vê agora. Caetano logo participa do CPC onde conhece Capinan, que de ator passa a letrista de Clarisse. Logo se une a Gil e começa a sentir a influência deste que foi um grande mestre, João Augusto Azevedo, em um templo do saber,Vila Velha.
Assisti a seus primeiros shows. É a fase das grandes canções engajadas. Depois, a aventura do Tropicalismo, os clássicos programas de TV, Essa Noite se Improvisa, os Grandes Festivais e uma tônica nas letras de Caetano que Julio Medaglia, um dos artífices da Tropicália, frisou. Mais do que questionar a autoridade, eles questionavam os fundamentos da autoridade. Preso, Caetano teve seu cabelo raspado e sofreu todo tipo de tortura psicológica dos militares.
Leio agora em meu jornal que uma facção repressora do PT está-se organizando para vaiar Caetano no carnaval. Que baixeza. Que ato fascista pequeno. Como vaiar este brasileiro que sempre defendeu o seu país; que chorou por ele lágrimas amargas no exílio; que sempre levantou a voz em defesa dos seus ideais mais elevados, com toda coragem, expondo-se inclusive à opinião pública. Vaiar Caetano é vaiar o Brasil. Vaiem o PT, então, no carnaval, minha gente. Quem merece vaia pelos descalabros que faz no poder é o PT. Neste carnaval, pois, vaiem essa malta do PT. Caetano não.
Não se vaia quem fala a verdade...