O jugo da beleza criada
A questão um tanto perturbadora entre nós humanos é o trato com a beleza. Convenhamos, com todos os seus exageros, a alimentar indústria de bilhões. Um grande negócio. Permitindo a milhões de mulheres se aproximarem imaginariamente um pouco daquilo se apresenta como a mulher perfeita, linda e desejável (E é no desejável que a coisa pega, animais que somos...).
Recordo-me de reportagem rodada na Amazônia, onde a vendedora da Avon, de canoa e sacola, corria os igarapés e, inimaginável para mim, empurrava cremes e sombras, batons e perfumes para as ribeirinhas, que tinham sempre alguns trocados separados para deixá-las aparentemente mais bonitas e atraentes. O Brasil após os EUA é o maior mercado desta empresa de cosméticos, apesar da disparidade econômica entre estes países.
A futucar com o desejo instintivo, o sonho da conservação e eterna beleza.
Alguns programas de tevê demonstram de forma quase primitiva a transmutação, o pavoneamento maluco de homens e mulheres, com plásticas, trajes e tinturas para atingir esta idealização do que é belo, em nossos conceitos. Aplaudidos pelos próximos quando a gordinha Mrs. Farthead de Illinois mostra-se transformada, em algum canal Sony, como uma Angelina Jolie com remendos.
Em média, mundo afora por determinada forte imposição cultural centro-européia, a mulher loira é o objeto de desejo estético mais freqüente.
Pergunte aos nossos jogadores de futebol...Basta ver por aqui a maluquice de milhares de paulistanas, morenas ou até mulatas, pintando, alisando os cabelos para se transformarem em valquírias dos Nibelungen, de olhos azuis e cabelos de palha de verão.
Seguem as morenas brancas e o fiel exército de pobres mulheres africanas e indianas que deixam se intoxicar com alvejantes da derme, alguns à base de amônia. White is still beautiful, mistah!
Por último, sofisticadas, e brancas, porém orientais, com os olhos amendoados (mas já tendendo ao ocidental), cabelos lisos negros e com traseiros redondos, a destoar da real média oriental, menores com a retaguarda mais para a platitude física, fora dos padrões centro-europeus, como disse. E o desejo a financiar milhares de operações de correção das pálpebras, maquiagens pesadas a arredondar os olhos, algumas permanentes, e curiosas calcinhas almofadadas, para retocar o traseiro chapadinho.
As belas negras acabam em posto inferior, às vezes apresentadas em comerciais com os traços quase “caucasianos”, negras brancas, como dizem. Com seus cabelos alisados para o comercial, nariz mais para aquilino. Dentro de certa falseada correção política, mas com hipocrisia sempre presente. Jamais para comercial de detergentes, viagens ou carros.
Para as propagandas oficiais, sobre abobrinhas de “inclusão social” e bancos estatais, pode.
E as indígenas, se escuras, pequenas, andinas ou inuit, bem, destas nem se fala. Nem aqui, em tempos de tanta promoção da justiça social
Somos assim, hipócritas mesmo.