Galeto cozido à gaúcha com vinho da Serra
Não sou inimigo da cozinha, ou de cozinhar. Acho me entenderia com um emprego na área, mas sem o massacrante cotidiano dos profissionais. Talvez se soubesse mais e melhor da arte, uma boquinha como consultor. E procurando as adaptações, o mais me encanta na culinária. Por exemplo um bom galo-no-vinho. Acho já escrevi sobre isso por aqui, mas, assim como repetimos pratos, talvez discorrer um tantinho mais sobre esse, um dos preferidos, não deve aborrecer. Aborrecer muito, penso.
Lembro ter lido em algum canto que exausto o galo de suas tarefas, já velhinho, ao dono da fazendola nos confins da França às vezes antes de vê-lo sucumbir por causas naturais, metia-o na panela, retalhado, com uns nacos de toucinho, cogumelos menos nobres que não iam à feira e os restos do vinho, quase avinagrado, aquele que se guarda para uma futura salada.
Le coq au vin.
Não recordo quem me ensinou a receita, é coisa de muito tempo atrás.
Na verdade onde cresci, lá no meio dos holandêses e da alemãozada segunda linha de Santana e Tremembé em Sumpa (a primeira linha vivia no Santo Amaro, no Granja Julieta, Granja Viana e, a apoteose, Chácara Flora) os pratos iam da feijoada admitida, ao resto que ficava pelas batatas, carne de porco, molho grosso, maçãs e pêras. À francesa nada, nem se falava.
Havia até certa lojinha de um sujeito a quem chamavam de mestre-espião, pois americano de nascimento entretanto filho de alemães, espionou pela Alemanha nos EUA. E em 1943 foi preso, condenado à morte todavia anistiado em 1950, com expulsão ao Brasil (por escolha). Aqui vendia chucrutes, conservas em geral, frios; era de ótimo papo. E logo próximo, uma senhora alemã emendava os bigodes com minha mãe, de nome a confeiteira: Frau Tartsch.
E fazia adoráveis doces alemães, húngaros, suíços e austríacos mas nenhum francês, excetuadas as bombas de chocolate (eclair), minha mãe relembrava chamarem de peidinhos-de-freira (Nonnenfürzchen), pelo som, quando apertadas; porém eram divinas. Cuja filha, jovem viúva de um mergulhador afogado, infiel como o diabo, muito bonita, bimbava com todos os sócios interessados de um horroroso clube, de nome Sociedade Recreativa Bragança, único por onde se jogava um tal de Faustball, vôlei alemãozado em campo de futebol, batendo com o antebraço, podendo deixar quicar uma vez. E onde também não havia o coq-au-vin, só os duros Wienerschnitzel ou salada de batata com salsichas. Talvez daí o fascínio pela francesice.
É prato simples de fazer, adaptado ao nosso gosto e com ingredientes daqui. Para tirar a frescura do nome francês, poder-se-ia apelidá-lo de galeto cozido à gaúcha, com vinho da Serra...
Quem quiser a receita basta passar um e-mail para mim, link no tôpo da página. E eu mando com as dicas “secretas”, para ficar bom mesmo.