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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Quarenta e seis canções

Por Ildásio Tavares, de Salvador

Graças à habilidade, tirocínio, perseverança e um espírito beneditino de pesquisa, tenho hoje em mãos minhas quarenta e seis canções gravadas, várias das quais eu não tinha sequer escutado a versão musicada ou visto a capa do disco. Este verdadeiro regalo de Natal me foi posto à mão pelo tenente coronel policial militar Lázaro da Luz que, entre outras coisas, é o comandante daqui de Itapuã, e a quem eu já devia inúmeros favores. Meu amigo Lázaro se encantou quando descobriu essa minha faceta de compositor e que eu tinha canções gravadas por vultos de expressão na MPB, além de parceiros notáveis.

Sabendo mais, que muitas das canções estavam perdidas na voragem do tempo de um país sem memória, Lázaro resolveu, por conta própria, encetar uma pesquisa cujo rigor eu pude admirar, dentro de uma metodologia em que o ordenamento, a disciplina contam mais que tudo no País do Caos. É nesse ponto que o rigor científico, e o militar, se encontram; porque ambos visam à consecução de resultados verticais e fidedignos. Um dos maiores pesquisadores da cultura brasileira que tive na minha admiração era um General do Exército, Nelson Werneck Sodré. Não confundir militar e militarismo.

Passo a passo, tendo exatificado o número real das canções em primeira gravação, Lázaro executou uma varredura através de todos os meios que dispunha, desde a coleta da canção on line, através da internet, até à simples recolha artesanal via os parceiros, alguns dos quais cediam exemplares dos discos como Carlinhos Cor das Águas. Mais adiante, este atilado oficial chegou a localizar em São Paulo um CD com uma música que eu nem sabia que tinha sido gravada, Tatá Baúê Funfun, em parceria com Tom da Bahia. Antes que chegasse às minhas mãos o CD do afrosamba Canto de Yansan em parceria com Baden Powell, Lázaro o tinha localizado e me passara uma gravação. Tudo enroupado com um tratamento gráfico de primeira.

Para mim foi um prodígio. Um prodígio musical e histórico que começa com o saudoso Jorge Santos e minhas primeiras músicas gravadas por Maria Creuza no vinil Apolo XI. No primoroso encarte que acompanha o MP3 com as 46 canções, Lázaro se deu ao luxo de datar disco por disco. Assim, eu sei, não me lembrava, que Apolo XI, JS Gravações é de 1969 que Vinicius de Moraes em La Fusa, é Buenos Aires, 1970 , até Afro Samba Jazz, 2009, e por aí vai com precisão matemática, uma verdadeira edição diplomática de minha obra musical completa até agora.

Cada canção do nascer até a gravação tem uma história. As primeiras tentativas. As primeiras esperanças. Os grandes festivais. O Festival da Excelsior. O último festival da Record estava tudo certo para eu ganhar com a linda Catendê quando denunciaram que a música não era inédita. Catendê teria sido sepultada por A. Carlos e Jocafi se Vinicius não se apaixonasse por ela e a gravasse. Várias canções que fiz com a dupla A. Carlos e Jocafi foram sepultadas. Eram boas demais. Dupla de meninos incultos (de um samba só) que fui eu que inventei e se fez compondo em cima das harmonias de Catendê.

1 A dupla Antonio Carlos e Jocafi, Ildásio com suas recordações destes sambas.

2 Nelson Werneck, apesar de militar, um grande pesquisador.

3 Baden Powell e seu famoso canto de Iansan (Iansã) em parceiria com Ildásio Tavares.

4 Maria Creuza e Vinicius em "La Fusa", Buenos Aires.

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