Hermó

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro & Mello

Deutsch Version hermo@hermo.com.br

Artigo nº 97 - 18/11/2022

O fim da dignidade ou frango-de-próstata

Dizia meu querido e precocemente finado sogro, e sem ironias por aqui, a pior parte na doença, na suspeita da doença, no internamento, nos exames, ser a perda da dignidade. Como tinha razão: hoje novamente sofri aquilo chamaria prova clássica. Passado meu meio-século de infrutífera existência, pede-se o tal exame do toque, anualmente, e eu já andava atrasado, em ano e meio.

Não se trata de machismo, não tenho esse problema um tanto até demodeé, todavia convenhamos o estupro digital anal ser singularmente dolorido e certo desagradável momento na vida de nós homens mais velhos.

O urologista com tranquilidade pergunta da rotina, de alterações; o seu paciente, que estas abobrinhas digita, só consegue pensar no vindouro.

Quem tem c... tem medo, diz o dito...

E segue a perda da dignidade, onde feito imbecil, com meias e camisa, porém sem cuecas e calças, parecendo menino desassistido a mãe deixar apenas de camiseta, na periferia miserável de mucambo, ter o trololó varado por gelado dedo, a imaginar-se com metros de comprimento, esgarçando em segundos toda a honra, coragem e dignidade.

Por mais nobre seja o intuito do exame, ora, aparenta-se frangão a assar e receber manteiga pelas aberturas nas mãos do hábil cozinheiro. Porém o frango de fato já teve seu encontro com o além. O da próstata examinada anda bem vivo; sente o incômodo e alguma vergonha, é inevitável.

E dói. Principalmente quando o honorável homem de branco diz : agora pode incomodar um pouquinho...

Fecham-se os olhos, pensa-se o pior "e-se-agora-ele-acha-algo?", o crescendo de dores beira o insuportável e de repente:

"Beleza, próstata de menino de 18 anos!".

Feito urubu no qual acertaram pedra pequena e voltou a voar, lentamente a vida se recompõe. Sobem as cuecas, calças, o sorriso sem graça tenta estabilizar-se, a dor esvai. O alívio não haver nada com a tal noz e ter a dignidade restaurada é imenso. Agora só daqui a um ano.

Pede ainda o tal PSA, exame de sangue poder ser indicativo de alguma coisa a vir, porém pelo tamanho medido, superfície do troço e assim por diante, mera prevenção que ele, sempre, pede.

Vamos ver, ao menos pelos vampiros dos laboratórios a honra não é maculada.

Em tempo, mancebos: é desagradável, como a maioria dos exames, entretanto necessário. Passado o meio-século de bons serviços, libere a retaguarda para bom urologista e examine-se o que você não sente nem vê. Previna-se. Um serviço de utilidade pública do seu Espaço de Reflexão Hermógenes de Castro & Mello.

Normalmente por aqui me parece não "põem de quatro", como na charge americana. Um discreto dobre-os-joelhos-de-barriga-para-cima já resolve.

O melhor teste para ver se está tudo em ordem com esta glândula, a próstata. Nela se produz o líquido seminal, para levar os espermatozóides na ejaculação.

Comentários

(envie um comentário)

Hermó - 16/05/2008 (10:05)

Ironia terrível, acabo de ouvir que o presidente da sociedade brasileira de urologia faleceu ontem, aos 56 anos, de cancer de próstata...

Hermó - 15/05/2008 (08:05)

Milico é assim mesmo, posição de sentido até para o dedo do médico. E talvez uma medalhinha para quem passou pela bravura do exame. Pour le merite! Ordem do Anel de Bronze, Prata ou Ouro... Com diplomação e hasteamento do pavilhão...

JORGE DOS SANTOS - 13/05/2008 (08:05)

A propósito do fim da dignidade, conta um urologista que na época da ditadura recebeu no seu consultório um general linha dura para o exame. No momento do “agora pode incomodar um pouquinho...” o tal general, indignado, disse: esse exame é um horror e você ainda fica mexendo, rebolando com o dedo. Não existe outra maneira de fazê-lo? E o médico: Só se eu enfiar o dedo parado e o senhor rebolar. Ficou ainda mais indignado.