Hermó

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro & Mello

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Artigo nº 88 - 18/11/2022

O galo no vinho

Dizem as boas coisas devem passar pelas tripas. Ou “alegria vem das tripas”. Talvez, apesar de certa rusticidade da expressão. Porém inegavelmente uma boa refeição aplaca os ânimos.

Até no soturno e desconfortável mundo empresarial, quando há as inevitáveis e bobas tensões, apela-se para almoço ou jantar, com atenuantes alcoólicos para mover o oponente-cliente a apressar sua decisão.

Coisa dos homens.

Entretanto imagino desde tempos de outrora, quem sabe até das cavernas, o repasto dividido, oferecido, fazia pequenos milagres para os participantes. Poucos resistem aos odores e vapores, ou até a beleza, de uma mesa bem posta e pratos delicadamente apresentados.

Nesse mundo afora, todas as culturas fazem desses agradáveis momentos, e seu cenário, a apresentação de seus sempre deliciosos específicos hábitos. Desde delicados sushis dispostos em pequenas barcas de madeira à pompa de grande dinner, com sua infindável seqüência. Do churrasco pampeiro ao luar, à moqueca caprichada arejada pelo vento marítimo.

Criatividade sua mola mestra, deixando a arte culinária, apesar de sua sempre curta existência a morrer, como se diz, nas tripas, entre o que nós animais humanos temos bem distinto dos demais habitantes desta bola azulada.

Como por exemplo este grande prato francês, o tal “galo no vinho”. Diz a lenda o dito surgir a partir do destino cruel dado aos animais velhos, quiçá já perdendo penas e de duras carnes. E restos de vinho, sobras de bebedeiras ou barris esquecidos com líquidos de terceira.

Adoro fazê-lo, pois é simples e normalmente a turma gosta. Como neste domingo, onde uma querida amiga do Rio e minhas filhas almoçaram por cá.

A receita é simples, evidentemente adaptada, pois galos velhos (excetuado quem escreve) e barricas com vinhos menos apreciados não temos disponíveis com facilidade.

Um frango cortado à passarinho, dois dentes de alho, uma garrafa de vinho tinto seco, uma cebola grande picada, duas folhas de louro, duas tiras de toucinho defumado, uma panela grande e ¼ de litro de creme-de-leite fresco (ou em lata, evidentemente perde um pouco), duas colheres de azeite do bom e uma colher de manteiga. Sal a gosto, pimenta-do-reino e meio maço de salsinha-cebolinha picado.

Derreta a manteiga até espumar, adicione o óleo e azeite, frite o toucinho, os pedaços do frango (sem as peles) até dourar. Adicione a cebola picada, os dentes de alho inteiros, deixe fritar até ficar translúcida; agora o sal, a pimenta, as folhas de louro seguem. Mexer bem, junte ¾ do vinho. Tampe, deixe cozinhar (adicione mais vinho se necessário). Com garfo teste se as carnes do frango já se descolam dos ossinhos e sendo fato, adicione o resto do vinho, a salsinha e cebolinha assim como o creme-de-leite. Misture bem, deixe reduzir um tantinho e sirva com tagliarini, de massa fresca, cozido em muita água com um pouco de sal e uma colher de óleo.

Divirta-se.

O galo-no-vinho, ou frescamente "coq au vin" é simples e sempre uma delícia, agrada até quem não é fã de galinhas e vinhos.

Em panela de barro fica melhor ainda. Acompanhado de um tagliarini (sim, franceses comem massas italianas).

Comentários

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Hermó - 29/04/2008 (09:04)

Memória fabulosa!

Jairo Gerbase - 29/04/2008 (08:04)

o que comi pela primeira vez em campos do jordao estava delicioso