Hermó

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro & Mello

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Artigo nº 78 - 18/11/2022

Se en-en aviolitto

Um tanto perfunctório o título, dir-se-ia quase inútil. Primeiro pelo idioma, distante de nosso cotidiano linguajar, segundo pelo significado, talvez a definir como "casamento que não poderia ser". Mas foi o que me ocorreu quando li uma pequena história finlandêsa, do jovem Tommi Liimatta; divertida. O autor é um roqueiro, pelo visto bom compositor.

Conta ele que seus pais, casados há muitos anos, são um exemplo da burguesia suomi; fiéis entre si, trabalhadores. Gente pouco religiosa, ela engenheira, ele arquiteto. Como todos por lá, assim o desenrolar, um tanto descuidados no aspecto; ele bom bebedor, ela muito dedicada à família distante com origem entre os lapões. Mas modernos, casam logo após os estudos em 1975 e aí segue aquilo o único filho intitula aquilo "que não deveria ser".

Ao fazer-lhe a corte, usando este termo de mil oitocentos e lá vão bolinhas, passa à futura esposa bonito anel de noivado. Encantada pela escolha distinta, matém-no ao dedo por muitos anos, apesar de comum por lá não se usar anéis de casamento. Com sua lógica, escreve o jovem: em frio extremo metais nas mãos podem criar sérios problemas.

Vivendo e aprendendo.

O enlace festivo ocorre entre os lapões, em divertida cerimônia com renas à volta. Lapões que não usam anéis.

Na abertura da festa na singela capela luterana daquelas bandas geladas, como mundo afora, o pai leva a noiva ao altar. Fotografias espoucam por todos os lados e a melhor cena de progenitor e filha seguindo ao púlpito, torna-se parte dos costumeiros albuns de casamento. Arquive-se.

E um entusiasta amador contratado, com já moderna, à época, câmera filmadora Super-8, sonorizada, cobrindo toda a cerimônia. Lapões para lá, lapões para cá, fogueiras imensas, montes de neve, salão imenso em uma prefeitura amistosa, com paredes de grossas toras de pinheiros árticos. Muita água-da-vida, como chamam as vódicas naquelas bandas, cervejas, salmão, danças. O celulóide tudo fixa, para sempre.

Anos se passaram.

O menino, já roqueiro de algum renome, com incursões pelo mundo das letras e desenhos de gibis (vejam em Tommi ) certo dia pergunta à mãe porque havia deixado de usar a aliança. Que havia se partido e, mas não lembrava onde os deixara, os restos, foi a réplica. Mas não ser importante...

Mais adiante, em nova arrumação nos quadros da casa, surge uma ampliação, a coroar os demais: a mãe e o avô adentrando a pequena capela da Lapônia. Com moldura melhorada, a destacar o par entre os demais retratados. O avô havia falecido; e após o fato apareceu o quadro. Com a filha.

Por fim, em noite de conversa divertida entre os três, o filho que jamais havia visto o super-8 com a cerimônia de casamento e sabendo o pai haver consertado antigo projetor da época, pediu para assistir. Procurou-se por toda a casa, mas em determinado momento a mãe lembrou-se havia jogado aquele filme fora. Estaria mofado... O único entre muitos.

O roqueiro conta em percepção analítica que a ela, à mãe, o enlace existia e era mantido, mas seus sinais não poderiam ser apresentados. Melhor, sua sinalização, anéis, fotos, filmes, etc., era omitida, por alguma razão.

O pai não se importa, continua o escritor.

Um dia ainda perguntou à mãe porque esta não havia adotado o sobrenome do marido. A resposta foi a costumeira sobre liberdades pessoais, escolhas, etc. Escreve depois nada mais ter perguntado. Conclui que um Freud ártico teria algumas dificuldades...

Mas são assim , os lapões.

A jovem mãe da Laponia, em tempos de outrora. Tommi lembra.

Comentários

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Hermógenes - 07/04/2008 (15:04)

E, tudo brimo, noné?

Julia - 07/04/2008 (12:04)

sei... os lapões, né.

Hermó - 07/04/2008 (10:04)

Interessante, deve ser coisa do clima gelado de lá...

Daniel - 05/04/2008 (11:04)

Acho que conheço essa história. . . Ou pelo menos uma parecida