Hermó

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro & Mello

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Artigo nº 65 - 18/11/2022

Perdas oleosas

Farmácias não me constrangem, vou com certo vigor, pedindo o necessário para, em média, diria, achar alívio ou até cura.

Um remédio para dor-de-cabeça, outro para o filho resfriado. São boas instituições, as pessoas sempre a aconselharem o qual e quando tomar. Com meus deslizes na automedicação, mania nossa, brasileiríssima, pelo pouco controle exercido sobre a venda de medicamentos, ainda bem.

Ao contrário de outros lugares, como, por exemplo, seções de votar, delegacias ou qualquer outro órgão público, onde o sempre espinafrado cidadão acaba desejando nunca mais aparecer. Ateste isto quem já necessitou de boletim de ocorrência ou, por estes dias, providenciar passaporte.

Documento idiota, só emitido mediante a apresentação de identidade a relatar a mesma coisa. Mas esta paranóia é mundial, sem o papelzinho nada somos. Lembro do inferno descrito por certo repórter, a fazer artigo sobre a fúria antiimigrante e neurose identificadora européia; foi ao exterior e à volta, simples e propositalmente, jogou seu passaporte fora. Imediatamente preso, suas declarações de ser cidadão alemão, verbais, foram ignoradas.

Somente com advogados e comprovação da revista ser apenas teste, saiu.

Incompreensivelmente toleramos, dentro da nossa intrínseca forma de aceitar tudo imposto pelos poucos eleitos. Basta ver as imensas obedientes filas.

Porém, de volta ao antro do boticário: tomei decisão auto-medicamentosa. Comprei produto o qual, dizem, faz algum efeito sobre as banhas acumuladas. Estas gorduras e panículos adiposos a me forrarem por todos os lados, deixando o aspecto mais próximo de leitãozão bem fornido e não serelepe, quiçá macérrimo, lobo.

A preço de ouro. Caro mesmo, de assustar. A vaidade e a preocupação com as arrobas a mais subjugaram o centro cerebélico de alerta "preços-altos".

Toma-se a bombinha azul seguindo cada refeição. Logo após, sente-se revolução interna estar em curso. Deve ser similar a poderoso detergente, pois em determinado instante, caso não haja recinto salvador, a questão pode tornar-se complexa.

Alguns dias corridos, acostuma-se ao modus vivendi , percebendo sutis modificações, por exemplo, vejam só, perda de peso. Muito discreta; todavia, diziam os navegantes ingleses do século 17, steady as she goes, sempre elogiando seus terrivelmente lentos porém firmes barcos à vela.

Aumentada a quantidade de gorduras ingeridas, pior o efeito laxativo. Em seguida a copiosa feijoada é um salve-se quem puder.

Prosseguindo com a escatologia do relato, pleiteando envergonhadas desculpas que antecipo, recomendo a quem for se automedicar, como eu, uma série de pequenos conselhos.

O primeiro é rígido controle nas emanações gasosas. O gostoso aporte aéreo , com esta medicação, transforma-se em desagradabilíssimo banho pressurizado de óleo a desejar usar fraldões; cuidado, portanto.

Não ceda ao desejo ou impulso, controle com rigidez até saber onde dispor de área adequada para alívio, com posterior inspeção se não houve formação de algum fétido halo.

O segundo, mas último, é estar sempre próximo de local apto a descarrego, com perdões aos cultos interpretando a palavra de outra forma. De resto a coisa vai; tranqüila.

Tudo pela propalada saúde, aliada da escravizante estética; somos assim.

Alegria da perda de peso. Um esforço complexo, sou prova viva.

Comentários

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Hermó - 29/04/2008 (09:04)

Ué, qual o problema? Rubens Fonseca e sua escrava literária Patrícia Mello escreveram livros inteiros sobre isto... "Secreções, excreções, etc." do homem e a moça agora o " Jonas, Copromanta". Pelo que dizem os críticos, ambos, por coincidência, uma bosta...

julia - 12/03/2008 (22:03)

ecaaaaaaaaa! dispensável o comentário tão detalhado sobre os efeitos do xenical. caramba, que medo dessa bomba.

Cornelia - 12/03/2008 (17:03)

Não vejo a sua foto. Vorher...nachher