Hermó

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro & Mello

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Artigo nº 52 - 18/11/2022

Indiferença por sexo ou cor, finalmente?

É bem possível estar enganado; pressinto, entretanto, de algum forma o processo eleitoral para a nação do grande irmão titio Sam, estar enevoado com algo chamaria eu de absoluta indiferença; louvável, pelo curioso fato ser uma disputa entre representantes de parcelas normalmente alijadas do processo: mulheres e minorias. Aceitos pela população de lá, finalmente cansada, aparentemente, de machões brancos a bradar seu primitivo militarismo e rotular quem pensa diferente de terrorista.

A eleição ainda mais importante do planeta, pelo peso político e econômico daquela nação, não desprezando sua complexa influência cultural, faz-nos os demais 96% de habitantes deste planeta acompanhar o troço com certo receio. O último eleito e estranhamente reeleito mostrou-se, pelo visto, o pior sentado no trono washingtoniano; em todos os tempos. Acelerou a opção por novidades.

Hillary Clinton é como as mulheres devem e desejam ser no século 21. O marido infiel não a desonrou, sendo até levemente sarcástica em seu perdão (as mulheres compreenderam). Seu saudável distanciamento em relação ao processo Mônica Lewinsky em si, com a carga de ser uma das melhores advogadas nos EUA além de vencer o impossível imaginado processo ao posto de senadora por estado onde não nasceu nem habitava, torna-a Euclides da Cunha chamaria “essencialmente uma forte”. Mesmo alguns propagando asneiras como o “continuado domínio do clã dos Clinton”. Clã de dois? Ora...

Na outra ala, também democrata, o admirável Barack Obama; fenômeno. A TV matou o carisma, mostrando serem os políticos babacas como nós. Ele, Barack, é quase-quase carismático. Mulato fino, dir-se-ia assim entre os antigos dessas plagas tupiniquins. Aceitável, portanto.

E isto a deixar curioso: como se forma uma homem destes, de que é moldado?

Leio ser de família chacoalhada pelo racismo de avós maternos brancos, americanos, e avós paternos quenianos, negros. Ambos pares sem admitir, por algum tempo, a mistura de sangues. Nasce e cresce no Havaí, onde o pai culto estuda na Universidade saindo da África e casa-se com moça branca, apesar de já casado no Quênia (...). Bígamo, trígamo adiante.... Um tanto descompromissado nesta linha, pelo visto; somos assim, independentemente de status, cor ou valor.

O pai novamente abandona esposa e filho americanos em Honolulu ; segue para Harvard; estuda, assume cargo importante no governo queniano, casando-se pela terceira vez. Cachaceiro, dos bravos. Perde as pernas em acidente, guiando bêbado. Por fim morre, alcoolizado, em tenebrosa batida de carro. Em todos os anos visitou o filho somente uma vez.

A mãe casa-se novamente com indonésio, diretor de empresa de petróleo; mudam para Jakarta, onde o pequeno Barack estuda por algum tempo, porém volta ao Havaí, a terminar a escola sob tutela dos avós. O paradigma da educação americana impera, há famílias a sofrer com isto por aqui também.

Avós portanto com os quais tem forte ligação. Aceito na Universidade de Columbia e depois Harvard, segue o brilhantismo acadêmico do pai, sem a pecha alcoólica ou mulherenga. Deputado por Illinois e depois senador, é homem jovem para a ascensão meteórica, com 47 anos. Notável.

Ambos aparentemente têm o estofo para o cargo, me parece.

O oponente conjunto, John McCain com sua declaração boba “procurará Osama Bin Laden até às portas do inferno” e seu sempre ressaltado assunto repetitivo sobre o martírio foram os anos aprisionados no Vietnã do Norte, parece, cansou o público. Não acredito tenha excelentes chances, além de em seus 71 anos, num país jovem como os EUA, não ser mais motivo para rotulá-lo de experiente. Estaria mais para “um pouco velho...”.

Vamos ver no que dá.

Barack Hussein Obama pegando uma praia no seu nativo Havaí?

Uma foto com, diria, alguma falta de estilo. A imprensa às vezes é tenebrosa.

McCain me parece algo deslocado no século 21, lastreando a candidatura em "caça a terroristas" e "Vietnã, ó como sofri mas não amoleci.". Fora do tempo...

Comentários

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- 08/02/2008 (09:02)

A origem de Hillary, em termos "cultos" é de menor glamour que Obama com pais universitários de escolas de topo, tolerantes e liberais (até na questão racial americana). Confesso simpatizo com ela, pois é a primeira vez que uma mulher traída, em patamar "presidencial", diz que perdoa, com ironias, mas deixa claro que ela é ela, forte e competente. Quanto a Lula, simpatizava eu. Mas hoje posso dizer que de combativo sindicalista tornou-se coronelista nordestino, sem metas, sem arrojos e costurando podres alianças para manter-se no poder. Mas sem exercer o poder. Apenas fica lá, desfrutando as benesses, bobamente, com avião bonito. Um Lech Walesa de Armanis com o privilégio do segundo mandato, empurrado pela economia forte, falta de opção e tolerância com a devastação via agronegócio. Um pulha.

JORGE DOS SANTOS - 07/02/2008 (23:02)

Claro, mas eu quis me referir apenas ao fato de, pelo carisma e habilidade de falar numa linguagem mais popular, ter caido no gosto do povão, dos que, apesar de americanos e pressupostamente mais cultos(?) que nós tupiniquins, são os politicamente menos esclarecidos naquele universo, como nós os temos aqui nas figuras dos "baianos" em geral, que veneram a figura do apedeuta. Comparar com o Lulla, eu não ousaria.

Luis Alvaro - 07/02/2008 (14:02)

THOMAS

HOJE COMENTEI COM MINHA ESPOSA QUE HILARY CLINTON LEVATOU EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS DE CINCO MILHÕES E OBAMA FOI ALVO DE DOAÇÕES NO MONTANTE DE TRINTA MILHÕES....V I V A !!

Hermó - 07/02/2008 (14:02)

O Obama e Lula? "Menas", ô meu... Incomparável. Lula tem primário incompleto, Obama tem Columbia e Harvard. Obama fez a via sacra: advogado causas cíveis e públicas, vereador, deputado estadual, federal e senador. Lula só quis a presidência, 20 anos na batalha depois da presidência do sindicato, com seus méritos inegáveis. Deputado federal eleito em um único termo, mal ia lá, com 0 projetos de lei. Lula está mais para a intelectualidade de Bush: alcoólatra, péssimo nos discursos mas de empatia popular incontestável entre o que se chama classes menos favorecidas. Lula com a rara sorte do levante econômico internacional a partir de 2003 e Bush com o 11.09. São assim.

JORGE DOS SANTOS - 07/02/2008 (12:02)

Ué! Por que duas vezes? Afinal, eu não escrevi com tanta convicção assim.

JORGE DOS SANTOS - 07/02/2008 (12:02)

Acho que o “Seu” Obama é o Lulla americano. Enquanto a Hillary, mais articulada, quer o debate, ele vai “pros braços do povão”. Será que os americanos ainda terão um Bolsa Esmola, digo, Bolsa Família?