Artigo nº 119 - 18/11/2022
Fusão
Por estas bandas latino-americanas, como disse Néstor Kirchner : “temos que acabar com a idéia de ser tachados de traseiro do mundo!”. A culinária mostra a maravilhosa fusão de culturas deste grande continente e de fato o conceito de traseiro do globo torna-se inconveniente.
E muito me fascina. Penso as coisas se degustam ser o que desperta a grande e suave convivência entres os povos, se bem divulgado.
Já imaginaram liberassem as boas cervejas européias para os muçulmanos que correm pela doutrina do pouco ou nenhum álcool? Quem pensa em quebrar o pau com japoneses e chineses depois de repasto de suchis (com perdões pela grafia à portuguesa) ou pato laqueado antecedido de rolinhos-da-primavera? Se alguém levasse Bush à frugal jantar em tenda iraquiana, com delicados cozidos de carneiro, arroz com lentilhas, finos pães pita recheados com pasta de grão-de-bico temperada com hortelã e azeite, não retiraria as tropas de lá?
Não haveria brigas.
Nosso provérbio paulistano, “tudo vai acabar em pizza”, sem dúvida tem fundo de verdade, quando não se deseja embates; e a reconciliação passa pela mesa e relaxados comensais.
Voltando ao espectro gastronômico latino-americano e seus artífices: por estes dias de São João e suas comemorações, conheci uma dupla de profissionais da culinária, jovens mestres e chefs formados pelo SENAC Águas de São Pedro ( Mestres Senac ), a mostrar-me o que é possível em matéria de fusão culinária, uma tendência segue os rastros da discutível globalização.
Aline e Rodrigo.
Sem impor cardápios, a partir de sugestões, digamos, democráticas, mostraram o talento na combinação de coisas nossas e exógenas, numa amálgama das mais deliciosas, imperdível.
Noite fria, recomendou-se paulistano "sopão" de abertura: mandioquinha e toucinho, coisa de Minas em fusão com panela piratininga. Fizeram com brilho; ao servir, um dos participantes do evento rodou por diante do buffet a pescar o cozido por apenas oito vezes, impressionando a garçonete.
Seguido de polenta mole, creme fabuloso de milho com temperos e influência italiana, combinou-se o prato com cozido de galinha ao molho de tomate. Magistral, em quantidades certas. O correto para uma noite junina.
Apreciei acompanhar o trabalho dos jovens. Na escolha dos alimentos, o preparo, a cocção, os temperos, o servir, a limpeza geral. Aline, como maestro desta sinfonia culinária, é imbatível. E Rodrigo, assim como os demais a secundá-la fazem do prazer gastronômico evento indiscutivelmente superior.
São assim, muito bons.
1 Aline Guedes comanda o quarteto culinário de gente do SENAC, nesta comemoração de São João.
O "sopão" paulistano com toque mineiro, de mandioquinha e toucinho a encantar todos. Os segredos ela não revela, óbvio.
3 A habilidade e velocidade na preparação dos alimentos demonstrada pela chef. São Paulo é sem dúvida o grande polo gastronômico da América Latina e Aline jovem expoente.
4 Rodrigo, outro integrante do quarteto sinfônico-culinário (e esposo da Aline) um outro chef de gabarito formado pelo SENAC.