O inconveniente.
Ele se foi, discretamente.
A recém enviuvada e sua diligente irmã respiraram aliviadas.
Por anos temiam sempre pudesse o agora falecido em algum momento detonar asneiras. Alertavam aos circunstantes, à boca pequena, ser seu hábito, imprevisível.
Constranger com alguma ofensa, soltar impropérios.
Disfarçavam sussurros, no estilo ele-é-assim-mesmo, a figura sendo "inconveniente metido a engraçadinho“.
A sogra abraçou as criaturas, escorregou um sarcástico Deus-quis. Nos olhos lembrando o capeta estar com ele, nesse desconhecido Além.
No Uber em retorno do crematório, alguém tentou lembrar quando e quantas vezes havia ofendido com vômitos orais, esse risco agora tornado fumaça.
Em qual ocasião, hm... por fim concluíram: talvez nosso eterno temor, mas nunca ocorreu, nadinha. O grande medo de uma verborragia inflamada e ofensiva simplesmente jamais aconteceu...
"E agora estamos seguras, aquilo nunca ocorreu não ocorrerá."
Amém!