Robôs quadrúpedes
Por Dr. Odorico Leal, de São Paulo.
Os primeiros robôs quadrúpedes começaram a circular por Los Angeles em fins de maio.
Como os bípedes, são refugos da DARPA (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa). Inicialmente projetados para acompanhar soldados americanos por terrenos inacessíveis a veículos, foram dispensados, segundo comunicado oficial, por serem “barulhentos demais”.
Mas fontes relataram uma razão diferente: os soldados “sentiam-se molestados pela presença do ‘cão máquina’, que apenas ressaltava a solidão dos desertos.” Assim, uma matilha de milhares de robôs quadrúpedes de custo bilionário se viu sujeita ao sacrifício.
No último segundo, uma medida extraordinária aprovou a circulação em público, para fins comerciais. Considerou-se que os cães robôs passavam no teste do ‘coeficiente de adorabilidade’.
Já os bípedes ficaram restritos à circulação interna: todas as pesquisas apontam que a presença de robôs bípedes provoca recorrentes sensações de mal estar, rancor e vazio existencial nas populações expostas.
Pelo menos um comentarista político do recém-fundado Partido Nacionalista americano associou os efeitos perturbadores dos bípedes ao “saudável e natural ódio aos imigrantes.” Apesar do coeficiente de adorabilidade, os primeiros processos envolvendo robôs quadrúpedes começaram a surgir por volta de julho.
A simulação realista dos movimentos animais é considerada intolerável por uma parcela expressiva da população, que demanda robôs de movimentos estereotipados - robôs robóticos, “como nos filmes”. Outra parcela é indiferente.
Um grupo anti-robôs quadrúpedes encontra-se atualmente em litígio contra o Estado e uma junta heterogênea de empresários, que pretendem que as reações aos simpáticos quadrúpedes constituem “mera histeria, descompasso de almas patológicas.”