Foto do Hermógenes

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Tempos felizes? Tempos plúmbeos?

Observo aqui coletânea de fotos coloridas de Paris. Antigas, talvez pelos anos 1940. As pessoas cuidando de suas vidas, algumas se deliciando com trejeitos da moda, outras em tranqüila pesca às margens do Sena.

O autor, mestre nas paisagens urbanas em branco e preto, testou suas habilidades com a nascente foto a cores. Mas nada revelou, pois havia , pelo momento histórico, pouco a comemorar com a profusão de cores da nova técnica. Épocas de ocupação alemã.

Mas as fez assim mesmo, envergonhadamente, porém, guardando por muitos anos, para agora revelar-se o que tem chocado alguns.

Observem.

Para melhor ver, basta clicar sobre a foto em si, pois ampliar-se-á.

São de André Zucca, nunca antes mostradas, pois revelariam certa Paris menos preocupada com a ocupação alemã do que propagado. Uma longa concedida censura nacional completa, apoiada pela própria população no pós-desocupação em 44.

Amainados os ânimos, em parte, pelo tempo decorrido, hoje ousa-se mostrar o talento do fotógrafo.

As 270 fotos da época que se imaginava cinza, triste e oprimida, e na realidade mostram a cidade divertindo-se como sempre, com pessoas alegres circulando, podem agora ser vistas em exposição na Biblioteca Histórica da Cidade de Paris. Um pouco longe para nós brazucas irmos, daí a licença de repassar algumas por aqui.

O atual prefeito cultural porém teve que suspender qualquer publicidade sobre o evento, diante dos furiosos protestos. Entretanto as filas para a mostra são respeitáveis, a controvérsia entre franceses ditos colaboradores e os outros, os resistentes, durante a ocupação nazista continua, 64 anos após.

O próprio fotógrafo por ter ousado fotografar Paris com os raros filmes coloridos Afgacolor que recebeu dos alemães, com quem mantinha certo relacionamento pelo visto, acabou preso em 1944 como colaborador.

Um influente membro da Resistência intercedeu por ele, dizendo-o apenas e de fato artista-fotógrafo; assim libertado rapidamente. Porém jamais recebeu outras encomendas fotográficas, abrindo uma modesta loja de revelações em vilarejo próximo a Paris, morrendo esquecido em 1973.

Somos assim, nem sempre perdoamos quem é perdoável.

As fotos geram atualmente alguma polêmica, pois mostram parisienses relaxados em épocas complexas, de guerra. Ocupaçã alemã 1942-1944... Fotos coloridas não divulgadas, para não trazer imagens de leveza daquela época.

Dias ensolarados, comércio em ação.

Ruas um tanto vazias, o pai apressado com seu riquixá , com as filhas a ajudar. Mudança em domingo de tranquilidade? Ou fuga apressada?

Pescaria às margens do Sena. Pelo visto o ódio aos ocupantes não preenchia todo o tempo.

E a estranha realidade... o pavilhão nazista de cruz gamada ondulando tristemente, em cores, sobre a bela cidade. Ao lado das Tulherias, o belo parque dos parisienses.

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