O fim da dignidade ou frango-de-próstata
Dizia meu querido e precocemente finado sogro, e sem ironias por aqui, a pior parte na doença, na suspeita da doença, no internamento, nos exames, ser a perda da dignidade. Como tinha razão: hoje novamente sofri aquilo chamaria prova clássica. Passado meu meio-século de infrutífera existência, pede-se o tal exame do toque, anualmente, e eu já andava atrasado, em ano e meio.
Não se trata de machismo, não tenho esse problema um tanto até demodeé, todavia convenhamos o estupro digital anal ser singularmente dolorido e certo desagradável momento na vida de nós homens mais velhos.
O urologista com tranquilidade pergunta da rotina, de alterações; o seu paciente, que estas abobrinhas digita, só consegue pensar no vindouro.
Quem tem c... tem medo, diz o dito...
E segue a perda da dignidade, onde feito imbecil, com meias e camisa, porém sem cuecas e calças, parecendo menino desassistido a mãe deixar apenas de camiseta, na periferia miserável de mucambo, ter o trololó varado por gelado dedo, a imaginar-se com metros de comprimento, esgarçando em segundos toda a honra, coragem e dignidade.
Por mais nobre seja o intuito do exame, ora, aparenta-se frangão a assar e receber manteiga pelas aberturas nas mãos do hábil cozinheiro. Porém o frango de fato já teve seu encontro com o além. O da próstata examinada anda bem vivo; sente o incômodo e alguma vergonha, é inevitável.
E dói. Principalmente quando o honorável homem de branco diz : agora pode incomodar um pouquinho...
Fecham-se os olhos, pensa-se o pior "e-se-agora-ele-acha-algo?", o crescendo de dores beira o insuportável e de repente:
"Beleza, próstata de menino de 18 anos!".
Feito urubu no qual acertaram pedra pequena e voltou a voar, lentamente a vida se recompõe. Sobem as cuecas, calças, o sorriso sem graça tenta estabilizar-se, a dor esvai. O alívio não haver nada com a tal noz e ter a dignidade restaurada é imenso. Agora só daqui a um ano.
Pede ainda o tal PSA, exame de sangue poder ser indicativo de alguma coisa a vir, porém pelo tamanho medido, superfície do troço e assim por diante, mera prevenção que ele, sempre, pede.
Vamos ver, ao menos pelos vampiros dos laboratórios a honra não é maculada.
Em tempo, mancebos: é desagradável, como a maioria dos exames, entretanto necessário. Passado o meio-século de bons serviços, libere a retaguarda para bom urologista e examine-se o que você não sente nem vê. Previna-se. Um serviço de utilidade pública do seu Espaço de Reflexão Hermógenes de Castro & Mello.