O major pianista
De um documentário alemão, do canal WDR no iutubi, sobre o final da Segunda Guerra e como os alemães sentiram a invasão de seu território, nesses caso pelo americanos.
A anotar aqui mulheres da geração seguinte a tal guerrona terem desprezo profundo a quem se ocupa em assistir essas coisas, como imensa perda de tempo, por algo passado, sem explicarem a razão.
Mas vamos seguindo.
A senhorina já com seus 85 anos descreve a chegada em sua casa do pelotão gringo. Fala de seus uniformes relaxados e botas de amarrar. Usa certa expressão ultra-alemã, ao dizer que os GI´s não eram zackig como militares europeus, ou seja: duros e precisos.
Que deram chocolates às crianças, e comenta:
- "Adoravam crianças, brincavam, deixavam subir em seus tanques, empunhar as armas e numa mágica inexplicável, falando inglês e as crianças alemão, se entendiam com perfeição."
Por fim o oficial-comandante, pelas insígnias mais "finas", como dizia a senhora, pede usar o sanitário em sua casa. E ficara impressionada com os bons modos do homem, visto a Wochenschau (noticiário dos nazistas pré-filmes, semanal) mostrar a turma yankee, mormente prisoneiros americanos negros, cansados, como "perigosos e violentos estupradores", em racismo político útil.
No retorno, o oficial, a se apresentar como major (igual denominação em alemão, para certa compreensão da senhorita, mocinha à época) depara-se com um Flügel, piano de cauda em bom estado.
E com perdido olhar ao grande instrumento, em certo devaneio, pergunta em lento inglês então compreensível à moça, se poderia por alguns instantes tocar.
Sem óbvias objeções, nesse subúrbio ainda intacto dessa cidade alemã, o major toca com cuidado e precisão a bastante conhecida peça Für Elise.
E a velhinha com um sorriso termina sua entrevista dizendo:
- "Na nossa Bonn, onde nasceu Beethoven, esse jovem oficial, com suas mãos delicadas tocava para nós, vejam só, Beethoven. O inimigo cruel era apenas um moço loiro que gostava de música."
Ao sair, o pai da moça perguntou ao major americano qual era seu nome para cumprimentá-lo pela bonita execução, pianista que também era. E esse respondeu:
-"Hoffmann, senhor. Major Andrew Hoffmann".
E nunca mais se viram.