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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Dário, o misantropo.

Por Odorico Leal, de Picos, PI

Como todo misantropo, Dário também era egocêntrico. Não bastava odiar, queria também ser odiado. Depois de alguns anos de Internet, Facebook e memes, o país tinha se dividido.

A situação o animava. Para os liberais, dizia que faltava governo no Brasil.

Aos conservadores, dizia Deus existe, mas é um depravado. Para os comunistas, rosnava: “Comunistas!”. Tudo lhe dava satisfação.

Mas sempre que atacava um grupo, era momentaneamente admirado por outro. Ele entendia a psicologia da mente ideológica, e isso o exasperava; o sujeito de uma ideologia podia amá-lo e odiá-lo ao mesmo tempo, contanto que não deixasse de agredir a ideologia contrária.

E Dário não resistia: precisava ofender todos, e assim era também admirado por todos. Não podendo suportar a ambiguidade desse afeto, maquinava uma ofensa polideológica que ferisse suscetibilidades por todo o espectro de crenças e esperanças.

Refletiu, ponderou, corrigiu-se, até que chegou à postagem mortal. Foi lá e escreveu:

“Se você tem cachorro e gato, favor não se referir a eles como filhos. Você pode jogar comida numa tigela, sair de casa e voltar dez horas depois, e o gato e o cachorro estarão lá, tão gato e cachorro quanto antes. Então meça suas ideias: evite apropriação.”

Dário teve a página bloqueada. Tentava reabri-la, mas não conseguia. Tinha sido banido. Foi pra rua e ofendia as pessoas na cara delas. Apanhou e amofinou-se. Ficava no apartamento, em Copacabana, gritando impropérios da janela.

Misantropos, são poucos, mas autênticos.

Comentários (clique para comentar)

Bussius - 16/12/2016 (17:12)

Não é meu não, apesar do leve "ranço"...caro Haraldinho.

harald wittmaack - 16/12/2016 (15:12)

FINALMENTE UM ARTIGO AUTOBIOGRÁFICO!