Foto do Hermógenes

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Umbigos

Nunca liguei muito para umbigos. Nem para o próprio. Notei apenas no passar dos anos, se retraía para o interior de umas dobras de banha. Não as possuía quando criança. E era área melhor ventilada, penso.

A chamada sociedade do bem-estar esconde os umbigos, em nós mais velhos. Com panos, porém muitas vezes com dobras de pele.

À medida os filhos nasciam, os cordões umbilicais caídos (também conhecidos pelo codinome homônimo) eram motivo de procedimentos místicos.

Ao que nunca dei muita atenção.

Jogar por cima de uma porteira de fazenda, ou enterrar ao lado das casas. Depositar em telhados ou deixar mumificar a ponto ser possível moer em pó e entregar a benzedeiras para outro destino.

Pois não é eu, homem maduro e agora avô, me preocupei com o destino do umbigo de um neto e para onde deveria seguir o diminuto pedaço seco que o ligava à mãe?

A filha, percebendo eu estar entrando em outra fase, um certo misticismo melancólico saudável, me passou a relíquia.

E hoje, sozinho, talvez observado por alguma câmera de segurança, enterrei o dito ao lado de forte sibipiruna de médio tamanho.

Cujos galhos e folhas me protegem da luminosidade forte e barulhos da rua, no escritório onde passo os dias. Naquilo gosto de fazer : trabalhar e escrever, talvez editar umas fotos.

Quem sabe o neto um dia saiba disso e olhe a árvore, essa certamente estará bem grande, com carinho?

Talvez eu até ainda esteja por aqui, para acompanhar...

Vamos olhar para nossos umbigos...

Comentários (clique para comentar)

Seja o primeiro a comentar este artigo.