Os melhores
Temos mundialmente hábito curioso, enaltecer as coisas locais de maneira exacerbada. Não conhecia muito essa característica humana, até o dia fui à pequena cidade de Ipiaú, no interior da Bahia.
Por ali os locais me afirmavam com certa veemência e orgulho ser de lá a melhor farinha de mandioca do Brasil, a melhor carne de sol, os melhores jogadores da terceira divisão e o leite, ah o leite, não havia igual.
Já em outro canto, pelo norte da Alemanha, certa tia insistia que na pequena Halberstadt onde vive, ser feito o melhor salame tipo hamburguês do planeta, as melhores salsichas e se preparar o melhor cozido de inverno do universo.
Outra conhecida indica os melhores frutos do mar da galáxia são comprados em sua natal Canavieiras, pela Costa do Cacau. E por lá os peixes sempre mais frescos, as águas mais limpas. As ruas mais tranquilas e as pessoas mais afáveis.
Nascido com neurótica desconfiança descomunal e criado como quase ultrajante cético, nunca levei essas afirmações muito a sério, de tempos em tempos me deliciando com descobertas conflitantes.
A farinha da pequena Ipiaú, a melhor do Brasil, é em grande parte comprada no Paraná. A tal carne-de-sol pode ser muito boa, de fato. Mas se acompanhar o processo de como e onde feita, nunca mais comerá um naco. E o leite, pouco a pouco tem seu posto substituído pelas grandes marcas industriais, preferencialmente em pó. É mais seguro.
Idem na Alemanha, a salsicha não é grande coisa, feita em cidade ao lado. O cozido de inverno, bem: não encanta ninguém.
E por aí vai. Mas fica o hábito, o orgulho da origem e dos produtos.
Com suas fantasias. Em jogos de TV, com times bons e destaque de algum jogador, é comum a platéia da cidade baiana elogiar o desempenho, completando: Esse cara é de Ipiaú.
Mesmo que seja gaúcho de Santa Maria ou colombiano...
Somos assim.