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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Só do meu jeito...

Por que nunca despontamos brilhantes no horizonte da humanidade, nós brasileiros? O que impede?

Penso muito por aqui dificulta. Nascido e crescido aqui, de pais alemães, cuja metodologia de "alcançar algo", para "viver melhor" definitivamente era distinta daquilo observo é pregado por cá, hoje homem de quase 60 anos.

O lastro ensinado era de forma meio fascista seguir a dupla convenção trabalho-obediência. Pregava-se certa obediência ser necessária a todos que desejariam destaque e tranquilidade; e mais adiante ter, por si, a capacidade de ordenar, para juntos chegar-se a um objetivo. Team-work na forma mais rústica e primitiva, a alemã: um dá as ordens, os demais seguem; com muito trabalho.

Mas não é funcional por cá, pois odiamos trabalho em equipe e mais: odiamos alguém ordenando, comandando. É forma nossa, é brasileira.

Posso dizer com tranquilidade e a experiência de 36 anos à frente de uma equipe, onde, ano após ano, com táticas e diplomacia, tento que cumpram aquilo imagino ser o necessário para todos chegarmos a um objetivo, receber por isso e seguir em frente.

É osso, como dizem os jovens.

Exemplo simples de nosso cotidiano brazuca: basta pegar um táxi. A primeira pergunta: "...e o senhor sabe onde é?" Caso saiba e conforme-se em orientar o "profissional da praça", e sugira um caminho alternativo, ouvirá: ".. mas tem certeza?"

E a polêmica estará acesa.

Com raras exceções, talvez: médicos e pilotos. Os demais em comando jamais serão ouvidos e seguidas suas ordens, pois é de nossa alma desafiar, polemizar e jamais dar a quem quer que seja, qualquer razão.

Não há diferenciação de gênero, a notar.

Alguns colegas com que trabalho, em 95% das vezes que solicito algo, devolvem "...mas é necessário? Será que não poderia ser...". Porém no momento que, atordoado com tanta réplica, retorno com " ... e como faria, amigo? ", ouço ".. bem, ai é consigo, você é o chefe...".

Polemizar sempre, concordar jamais, obedecer nunca.

Nosso momento político é a essência disso, mostra nossa alma desafiante. A presidente não pode mais governar, se a coitada pedir um café, alguém procurará dar razões a um impedimento por isso. Idem seus ministros.

Dominados todos por uma corte suprema cuja função é exclusivamente polemizar e seus membros mostrarem que são, com mil perdões, os fodidões. Bloqueiam os mais réles atos de governo, pedem vistas eternas para não decidiram nada e, garbosos, navegam com a insenção da imprensa ou demais membros de um judiciário, cuja meta principal é a lerdeza, o cargo estável e a gorda aposentadoria.

E na vida comum segue esse eterno enfrentamento, com aquilo em outros países talvez seja menos problemático. De filas de cinema a assentos em aviões, de visitas a UTIs (fora de horário, claro) ao espectro mais clássico da nossa perigosa irreverência: o trânsito. Com seus 40.000 mortos por ano no Brasil.

Irreverentes, desobedientes, contestadores; somos assim.

Se Batman fosse meu conterrâneo, penso não acharia nada disso. Diria: é para esculhambar mesmo...

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