No sports!
Em certa entrevista sobre sua longevidade, pois aos 93 anos fumava, bebia e parecia estar bem, a repórter perguntou a Winston Churchill a que creditava o feito.
Com sua fulminante ironia, aquilo o diferenciou de todos os políticos da época porém injustamente custou-lhe a reeleição no pós-guerra, detonou:
-” No sports! ” *
De fato, a Medicina faz mais pela longevidade do que exercícios físicos, em malvado pragmatismo cruel. Daí não haver estatísticas sobre longevidade relativa entre os praticantes ou não de esportes.
É terrível afirmar, mas aparentemente esportistas não vivem por mais tempo. Porém o que seria dos fabricantes de tênis, bolas e jogadores profissionais se isso fosse amplamente divulgado...
Penso com a agricultura e criação de animais para abate, o ser humano torna-se sedentário e longévolo, sem enfrentar entidades perigosas em caçadas ou extenuar-se procurando alimentos selvagens e pescado.
Movimenta-se menos, na escala da evolução. Inventa a doma de animais de transporte e domina o velejar, conquistando os cantos mais remotos do planeta. Com motores, bem, a coisa torna-se drástica.
Caminha menos, gasta menos energia própria, engorda, pois se alimenta como antes, ou mais, por prazer..
Até suas guerras se tornam distantes, com objetos lançados contra o inimigo, ao contrário de gládios pessoais mortais nos campos de batalha.
No final do século XIX e por todo XX, certa aparente culpa coletiva pelo sedentarismo, estimula europeus e americanos a se jogarem ao mundo dos esportes, compensando nossa adquirida e dita maléfica falta de movimento.
E faz-se bom negócio disso; Reebok, Nike, FIFA, Adidas e demais o digam. Olimpíadas e o omnipresente futebol movimentam bilhões. E milhões em corrupção...
Algo porém está mudando, lentamente. Observo certo enfastio com o excesso de "maiores e melhores" esportistas. No caso da Fórmula 1, o tédio é tal, poucos ainda se interessam. De pai para filho os mesmos participantes, as mesmas marcas, os mesmos circuitos e as mesmas velocidades. Sem novidades.
O futebol se restringe sempre aos mesmos grandes clubes, mormente da Inglaterra, Alemanha e Espanha. As copas mundiais aplaudidas, porém esquecidas em questão de dias após seu término.
Tênis idem. E confesso admiro quem acompanha o monótono tique-taque em quadras dos mesmos estádios desde 1910, patrocinados pelas mesmas marcas, já vendo partes do público mais interessadas em seus smartphones do que em outro “gênio” suíço das quadras ou jovens negras americanas quebrando os “tabus” do tênis branco.
O excesso nos cria freios.
Assim como as maluquices de guerras mundiais não permitiram a reprise dessas experiências sanguinárias em mais de 70 anos, a ultra-apreciação do esporte, principalmente profissional, leva a certo atual tédio, generalizado.
Na TV são tantos jogos transmitidos, desconfio ser mais um anti-ansiolítico e narcótico, pela cervejinha ao lado (a patrocinar o ludus), do que interesse em acompanhar Sérvia e Irlanda, pelo sub-qualquer-coisa.
Torcedores em alguns cantos vão mormente para se embebedarem e brigarem, do que incensar seus chatos times.
E passados eventos de porte, como a Volvo Ocean Race, regata ao redor do mundo com barcos e tripulações milionárias, nem são mencionadas. Não há público interessado.
Algum sedentarismo venceu, ”no sports...”, somos assim. As ciclovias pelo mundo afora são a prova, sempre enaltecidas como a solução para a saúde e o moderno deslocamento, porém, infelizmente, sempre vazias.
* Nenhum esporte!