É tudo mentira.
É mentira que o ditador desejou a filósofa francesa. Que a desejou a ponto procurar por outros meios entreter o marido, também filósofo, escritor e pensador.
A afastá-lo e comer a ainda palatável senhora, apesar de já em robustos anos. E que adorou, ela menos, dizia falava demais.
E o outro barbudo, seu companheiro de revolução, a derrubar ditadura anterior, também a desejava. Ou ela a ele, mais provável.
E também ela desejar a esposa do principal, pois assim como cantava e ganhava as pupilas do marido, na ilha do Caribe desejou essa bela.
E todos se comeram, dizem, e viveram (e vivem) felizes para sempre.
Menos o jovem revolucionário. A ele deu tudo errado. Escorraçado para fazer a revolução na Bolívia, ferrado com a renitente asma e falta de recursos, esquecido propositadamente pelo chefão na ilha, acabou enfrentando a CIA e seus influentes comandados no exército da nação andida. Também, quem manda nascer argentino...
Num canto, acuado, sem charutos ou remédios, entregou-se, dizendo:
-"Não atirem, valho mais vivo que morto."
E o irmão do soldado boliviano, morto pela guerilha do argentino dias antes, que então atirou, disse:
-"Você não vale nada..."
Fantasia, talvez. Mas cheira à verdade.
Sempre alguém deseja a alguém, somos assim. Sempre alguém atira, também somos assim.