Frutos da colonização
Fula da vida (expressão antiga, não é?) uma amiga jovem se irrita com minha afirmação provocativa sermos apenas o quintal sujo da Europa, Oriente Médio, África e um pouco de Japão com Coréia. De Anchorage a Ushuaya. Dois continentes gigantescos, porém sem língua ou cultura própria.
Citei os poderosos EUA, todavia como nós se vestem à maneira européia, falam língua européia e seu destino de férias no exterior, é a Europa.
A moça já ficou brava, dizendo eles não serem "termo de comparação", whatever that means. Falou da cultura indígena americana, muito presente. Porém a argumentação falhou um pouco, nem ao menos conseguiu citar as "áreas de influência".
E por esses dias, novamente verifiquei a forte influência, total na verdade, por essas bandas, no caso das eleições argentinas.
Falando língua ibérica, suas lideranças políticas para esse pleito são fortemente moldadas pela imigração italiana. O candidato governista é Sciola, a oposição vai com Macri...Do Sul de Minas à Patagônia, a imigração italiana (idem nos EUA, Uruguai e outros com paisagens, digamos, italianas) é algo considerável.
Nossa querida São Paulo, dizem, no final do século XIX recebia um contingente maior de imigrantes italianos que "nativos", ou até gente nascida na cidade.
A lembrar que apenas, e até hoje, 35% das pessoas aqui vivem, aqui nasceram.
E diante disso, analisando com quem trabalho, de fato percebi a forte influência dos italianos por cá.
Na empresica onde me ocupo temos Iaconelli, temos Reschini, temos Rossi, temos Chiodo, temos Nardelli, temos Tarcinale e outros. O gerente é um tal Bussius, apesar de vÍnculos com França e a Alemanha, é terminação antiga latina para gente originária de Modena, lá na bota.
E os milhares de outros pela cidade.
Já na política local, a questão é do Oriente Médio, os italianos brazucas se interessam menos que os de origem daquela área.
O domínio é Maluf, Haddad, Kassab, Temer, Alckmin e outros. O fascínio pelo poder é notável, desejo forte dos filhos de imigrantes sírios e libaneses, a proveniência da maioria.
De qualquer forma, de fato somos o quintal da Europa, do Japão, do Oriente Médio e de outros cantos.
Nos vestimos como eles, falamos suas línguas, viajamos para lá. Porém, quando lidam com os moradores dos fundos, nós, são um tanto reticentes, duros às vezes.
Basta ler os reclamos de brasileiros em Portugal, de dekasseguis no Japão e assim por diante.
A identidade indígena se perdeu por dominação e extermínio, excetuado na parte andina.
Mas o europeísmo predomina, domina até. Frutos da colonização. Somos isso.