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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

O êrro

Por António Chécove

Dimitri Polianov mentia. Mentia à esposa, mentia à sua amante. Mentia ao sócio e mentia aos filhos. Seus negócios iam mal, muito mal. Já de alguns anos. Seus credores o pressionavam. Porém de forma pouco insistente, sabiam não poderiam estar a esperar muito.

Pois também nisso Polianov mentia, a aumentar suas dívidas, imaginárias até. Locupletava-se com a megalomania. Aos filhos e filhas contava estar a dever milhares de rublos. À esposa dizia ter centenas de raivosos credores no encalço. Mentiras. Eram seguidas mentiras.

Não passava de alguns débitos insolúveis, impostos atrasados todavia desinteressantes para os colectores do Czar, por modestos. Pouco ocorria a rigor.

Assim seguia a vida do médico, menos dedicado em sua profissão. Tentava vender contos insôssos para editores de Moscovo e Petrogrado, sem sucesso, em paralelo. Raramente cobrava aos pacientes, compadecia-se dos desafortunados.

Até o dia cometeu o êrro.

Encantou-se desavisadamente com a concunhada, mulher madura, um tanto grosseira. Porém essa, de alguma forma, após anos de desinteressada convivência, mostrou-se também receptiva ao facto novo, esse estranhamente algo inusitado.

Ingrida era da Letônia, traços fortes e duros. Jamais sorria. As mãos de uma rude mujique, calosas. Falava mal. Porém havia tocado o pobre Polianov.

Em certo momento esse não resistiu e sob um subterfúgio qualquer foi visitar a criatura, levando flores.

Seu cunhado havia viajado, sua esposa e amante estavam em Petrogrado.

Recebido por Ingrida, sem grandes volteios, foram a feroz enlace. Animalesco.

Contou-lhe toda a verdade, havia abdicado da mentira. Da mulher que não amava, da amante pela qual não mais se interessava, dos débitos modestos, dos imaginados grandes credores não existiam.

Pediu discrição à parente. Que informou nada dizer, mentir até, se inquirida.

Duas semanas após, a amante e a esposa pediram a ele afastar-se, o filho mais novo informou seu desânimo com as infantis mentiras sobre débitos e credores imaginados. E seu cunhado o desafiou para duelo, ofendido; discreto porém, com já convocadas testemunhas do vilarejo.

Sua traição e mentiras todas haviam sido reveladas. Antes de seguir ao duelo, foi ter com Ingrida, desconfiado ser a fonte de seu novo e definitivo infortúnio.

Que apenas comunicou, quando perguntada sobre o que havia revelado:

-”Jamais minto, Dimitri Polianov. Jamais.”

Morreu após o tiro do cunhado acertar-lhe a jugular.

Ingrida e Dimitri, separados pela verdade.

O duelo interrompeu o mentir para Polianov.

Comentários (clique para comentar)

timoschenko@babro.ru - 23/10/2015 (14:10)

Uma brincadeira moderna com o escritor Wladmir Polianov, interessante. Alegre que en portugues.

Lourival - 23/10/2015 (11:10)

Não existe esse conto de Chécovi, alguém inventou. Mas é bem no estilo. Isso é comum, o campeão de cópias inventadas é W. Goethe, curiosamente. Machado de Assis o é por aqui, existem especialistas que debulham se é ou não é. Mas o falso é sempre triste, mesmo que bem-intencionado.

Gali Lurdes - 22/10/2015 (14:10)

Não É Checóvi, com certeza, esse conto não existe. Parece traduzido (ou criado) em Portugal.

- 22/10/2015 (10:10)

Fradinho das mentiras. Não muda mesmo, não é ô fdp? Desde quando isso é Tchékhov? Ele não escrevia essas besteiras.