O sonho
Ontem sonhei reencontrar meu pai.
A notar faleceu faz 35 anos. Porém quase plástico e real nessa incursão onírica, sem aquelas maluquices costumeiras dos sonhos, a misturar o cachorro do vizinho com o rosto de Putin (não me atrevi aqui nomear a Dra. Dilma para esse freudiano posto...)
Forte, intenso.
O falecido iniciou a conversa com um imenso esporro, perguntando "como assim, depois de tantos anos, só conseguiu isso?"
E passou a citar como havia sido duro para ele, o começo. As muitas horas trabalhadas, a dedicação, a economia. A guerra, a escola de oficiais, crescer filho único com mãe solteira durona, ser abatido pelos americanos, campo de prisioneiros inglês, imigrar ao Brasil.
E no seu sonoro alemão detonou: "Und du, fauler Hund?" (E você, cão molenga?).
No sonho, assim recordo, fiquei mudo. Como ficava quando jovem e ele inquiria das coisas, sempre relacionadas ao trabalho e algo talvez tenha esquecido de resolver.
Ao mundo não trabalhador jamais fazia qualquer referência. Nunca perguntou, simplesmente: "E aí, como andam as coisas?"
Seguiu o sonho, o defunto apontando as falhas todas na administração do herdado.
"Que imundície é esta aqui? O acabamento deste equipamento está um lixo! Como atrasa uma entrega importante dessas?".
Por fim, ensopado de suor, em pleno século XXI (ele morreu no século XX...) acordo, murmurando desculpas em tedesco.
Aliviado ter sido sido apenas um sonho, porém ainda comparando esse ao pior de todos, recorrente, o de não ter conseguido terminar a faculdade, fiquei a pensar: por que sonhamos?
Não sei, talvez o lembrete do inconsciente a não esmorecer e reviver as coisas (no meu caso mormente bem pentelhas) do cotidiano, e tentar melhorar. Para não ocorrer novamente?
Quem sabe... coisas humanas, somos assim.