Fascinado, fanático, fascista.
Por esses dias, diante do caos lentamente se instala no mundo das pequenas empresas brasileiras, e trabalhando em uma delas, a carga de trabalho diminui. Começam apenas as procuras por soluções que não comprometam os orçamentos das empresas, a negociação de demissões e o atiçar dos clientes, a ver se compram algo.
Em paralelo à noite tenho me aprofundado em assistir no tal Youtube todo o caos de uma Alemanha em seus dias finais de Terceiro Reich e tempos iniciais de pós-guerra. A documentação é riquíssima, a filmografia completa e intensa, muitas vezes assustador ver as imagens daquilo meus pais vivenciaram antes de imigrarem para cá.
Não há comparação, nosso caos é apenas verbal. Não há destruição, matanças de milhões e desordem administrativa total como ocorreu por lá. Por aqui falimos em silêncio, esquecemos dos presos justa ou injustamente, não mexemos com países vizinhos, não ligamos muito para questões raciais e nos armamos somente para agradar elites militares com brinquedos caríssimos, como a compra dos inúteis caças Gripen da Suécia. A única guerra que enfrentamos é criminosa, uma parcela da população que por esses caminhos saca de quem tem sem pedir licença, apontando armas e matando.
É guerra, pois nossa criminalidade brasileira, em números absolutos e reais, é a maior do mundo. Somos o país onde ocorrem 25% das mortes violentas do planeta, sendo apenas 2,85% da população mundial. Assim diz a OMS.
Voltando à Alemanha de então, o que mais impressiona é o fascínio da população com os ditadores. Até próximo do final do conflito, com o país em ruínas, filhos mortos nas frentes, a maior parte da população ainda reverenciava o maluco A. Hitler e acreditava nas suas promessas de Endsieg, a vitória final.
Isso seguiu até após o seu fim, muitos dizendo-o traído pelos colaterais. E negando verdades cruéis, como o extermínio de judeus, ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová e todos aqueles considerados nocivos aos interesses nefastos dos nazistas.
Por aqui isso ocorre também, em escala mais suave. Lembro porém, criança, vizinhos saindo do pacato bairro de Santana para em março de 1964, pedirem a intervenção militar, com a imensa Marcha da Família pelo centro velho de São Paulo. E rotulando o rico fazendeiro e presidente da república João Goulart de comunista, com ódio que me assustava quando criança.
Meus pais, já batizados pelo passado com essas loucuras, apenas se preocuparam em arranjar tudo para uma saída rápida do Brasil. Colavam no rádio e compraram mantimentos, pois meu pai, mantido por meses em campo de prisioneiros inglês com pouquíssima comida, dizia : o pior é a fome, por isso não quero passar mais.
Golpe dado, mudaram de idéia quando as coisas voltaram a rolar e os milicos se mostraram, inicialmente, como quem de fato iria fazer algo de alguma ajuda, aclamados. Depois conhecemos a desilusão com isso: a violência, a censura, o autoritarismo e o caos econômico.
Porém quando hoje leio nas redes sociais alguns pedindo "intervenção militar", rio para mim. É falta de aulas de História, dizem muitos. Porém, aqui como no pós-guerra alemão, há quem confie em ditadores. E há quem acredita que governos não erram, tanto faz de direita ou esquerda, beirando a um maluco misticismo em relação às figuras no poder.
Na verdade, nem só aqui clamamos por ou aclamamos ditadores, a lembrar que a segunda maior economia do planeta é regida por partido único com um ditador à frente, sem participação da população. E pelo visto, essa na maioria está bem satisfeita com a falta da democracia por lá... Muito estranho.
Mas, enfim, somos assim, não é? Também fascinados, fanáticos ou fascistas.