Katja Katilova, de São Petersburgo.
De A. Chekov
Pela oitava vez Katja Katilova perguntava à sua lacaia se ele havia chegado.
-"Não ama, ainda não, mas virá, fique tranqüila!"
Novamente foi ao samovar, sorveu o chá terrivelmente quente para o verão, murmurando impropérios ao czar e família. Não sabia muito bem porque o fazia, nem o conhecia, todavia odiava o nobre e tudo ligado a ele.
Incluindo seu marido, percebera, a quem ela e as serviçais, e as lacaias, apenas denominavam "ele". Na intimidade das mulheres.
Era fornecedor de selas para a estrebaria imperial em São Petersburgo, tradição antiga. Apesar da instituição não ser única cliente, na verdade era a menor, a recomendação e o privilégio de fornecer determinante para o renome de seu estabelecimento.
O que tanto amargurava Katia, a relação com esse cliente. Sofria com o infortúnio da população, em tempos complexos. De carências.
Tudo possível podia desviar sem "ele" notar, ganhador de gordos rublos com a casa real e outros, a entregar aos menos privilegiados, termo ouvia pelas ruas, efetivava.
Pães, mel, porco em conserva, velas e carvão. Mesmo a barata vodka, sempre era generosa. Até dinheiro repassava, aos mais miseráveis.
Porém "ele", naquele dia de verão, não aparecia. Sua grande pontualidade à prova, jamais atrasava; e se ocorresse, mandaria um estafeta levar notícia à bela casa em Karjasnka.
-" Onde ele se meteu?"
-" Senhora ama, um estafeta apareceu, eu o conheço, é Fjdor, mas, mas..."
-" O que houve menina, fale!"
-" Está com um laço preto no braço, senhora, vejo daqui. Brina já está chorando, ela gostava muito dele, de seu marido, ele."
-" Finalmente! Nada mais ao czar..."
E saiu da sala.
Trad. H. de C. & Mello