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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Os genros

Releio aqui, após vários anos, Os Genros, do Euclides Neto. Escritor baiano, da fina estirpe.

Volume alegre, com casos narrados sobre a tal genrocracia, assim a chamava, esta forma , digamos, política do mando e trato familiar, nas plagas cacaueiras.

Com detalhe curioso: escreveu o livro antes de tê-los, os genros. Talvez daí certa brincalhona má vontade literária com as figuras retratadas. Mais adiante, já sogro, dizia: poderia ter sido algo mais brando... Os seus reais contra-parentes pelo visto decepcionaram menos que os personagens no seu divertido livro.

Inesquecível o bom homem E. Neto; falecido em 2000, de quem o nobelizado José Saramago diz, não me recordo se nestas exatas palavras:

”... e se sei o que é a boa escrita, Euclides é bom escritor. Dos melhores.”

Em carta dirigida ao, imaginem, genro do homem, sobre o redigir da orelha de mais um livro este reeditara.

Os contos são chistosos, trazem à tona os devaneios, descaminhos e enlaces de espertos aventureiros e as ricas filhas do cacau. A ser título de nobreza; como diz o autor: não se é Sr. Fulano ou Dr. Sicrano, porém genro de Beltrano. Com seus ganhadores e perdedores. Em cômicas situações, beirando o bizarro, sem detalhes mórbidos, ao descrever sutil homo-erotismo entre genro e sogro.

Certo personagem desabafa, em defesa dos sogros:

”Genro é bom, quando não se precisa dele. Não é por soberbia, mas até hoje não peço nada, a não ser a triste feira que o administrador bota dentro de casa. O resto é por minha conta. Ainda tenho forças para trabalhar e não precisar de ninguém. E faço, não para agravar ou alegrar, mas não conto as vezes que do meu dinheirinho da venda dos meus frangos e capados, ainda empresto a Mariano.”

Com casos até criminais, mais adiante:

”E o genro que sentou a pilunga no velho sogro e o aludido criminalista foi chamado para demonstrar que a causa mortis originara-se de derrame...”

Ou quando, ”...noticiando o caso do genro que matou a esposa, espalhou o boato de suicídio, para casar com a sogra, ricona...”

Lembro o livro criou algum desconforto pelas bandas de Ipiaú na Bahia, onde residia, pois alguns se imaginaram descritos; e queriam satisfações. As quais nunca deu, pois como escreveu, até a tal Beira Rio, criada forma de cidade onde sucedem as tramas, “não existir em mapas...”.

Esgotada a edição; lamente-se. Pode-se conseguir cópias , penso.

De qualquer maneira precioso livro, bom de ler. E quem diz, assina agora:

Genro.

Euclides Neto (1925 - 2000)

Os Genros, talvez a mais autêntica obra de Euclides Neto.

Comentários (clique para comentar)

Hermó - 29/04/2008 (09:04)

Implicadíssimos...

Jairo Gerbase - 29/04/2008 (08:04)

Neste caso estamos implicados queiramos ou não

Hermógenes - 19/04/2008 (20:04)

Verdade, verdadeira. Lembro disto. Sinto saudades dele; nossas conversas na caatinga, seus sutis desabafos, que arriscava com os genros distantes, seu contar de excelentes casos, seu carinho com os netos meus filhos, a tolerância e suas engraçadas espetadelas no politicalha, de que tinha se desencantado. Grande sujeito.

julia - 19/04/2008 (19:04)

você só não mencionou o que ele costumava dizer: "se pudesse escolher os maridos das minhas filhas, teria escolhido exatamente os meus genros". isso sim é prestígio.