Somos assim!
Por esses dias observei, preso no trânsito, o desenrolar da nossa questão brasileira. Talvez aquilo nos deixa sempre em débito com o conforto da convivência pacífica. Duros e insistentes no que é errado, talvez nossa pior qualidade: não reconhecer jamais estarmos indo contra o senso-comum, a gentileza e a honestidade.
Vejam a foto ao lado.
O ponto de táxi instalado em uma calçada ao lado do Forum Ruy Barbosa em São Paulo. Para proteger os edifícios públicos ao redor, alguns trechos foram declarados área de segurança. E o local de espera dos táxis, assim como o embarque, deslocado 50 metros de lá.
É solenemente ignorado o ajuste.
Os senhores operadores da lei, advogados, escrivães, juízes e os demais que fazem da justiça do trabalho brasileira a mais rentável do mundo, embarcam nos veículos sem remorsos do erro. Sem preocupação da parada em local totalmente proibido, além de criar gargalos no cruzamento, ao fazerem-no também com o sinal de trânsito aberto aos demais.
Duas moças, olheiras, ajudam os nobres passageiros na tarefa não permitida e alertam os taxistas, caso surja alguém do departamento de trânsito.
Mas, como raramente taxistas são repreendidos ou multados, por serem trabalhadores ditos honestos e "formadores de opinião" a favor da situação no governo, pouco ou nada ocorre.
O trânsito é o mais singelo mostruário de como é nossa verdadeira alma brazuca, violenta; intolerante, despreocupada com os demais.
O mesmo estende-se à política e os grandes negócios. Dos delatados no atual processo por corrupção na grande estatal de petróleo, todos se dizem absolutamente inocentes. Nada tem a ver com o tema. E mais: se políticos, dizem-se acima de quaisquer suspeitas, com veladas ameaças a quem os acusam.
E em formidável contra-ponto, as ditas camadas populares se arrogam os mesmos direitos. A mesma violência. Se ousar reclamar do motoboy a fazer estrepolias no trânsito ou furar sua fila no banco, possivelmente ainda poderá apanhar.
Pois já deve a maioria de nós ter ouvido, ao insinuar reclamar de algo errado: - "E daí, qual é o problema?", a insistir no erro e ainda ironizar quem alerta.