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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Anton Chekhov e um conto curioso: A Esposa.

Sou aficionado por Chekhov e seus contos.

O mestre da arte, discutível é claro, afinal jamais há concordância quando se trata de artes, principalmente da escrita. Como exemplo cito nosso grande Guimarães Rosa, admirado por todos. Mas lido por poucos, um tanto indigesto, e seu estilo a copiar, até na indumentária, o irlandês Joyce para alguns deixa a pecha de brazuca macaqueação.

Mas é opinião; não vale, portanto.

Dos contos de Chekhov adoro "A Esposa" e tomo a liberdade de repassar aqui um pequeno trecho, tradução minha, mambembe; não sou do ramo.

"Minha esposa, Natalya Gavrilovna vivia no piso inferior, do qual ocupava todos os cômodos. Por lá dormia, recebia as refeições e os visitantes e jamais se importava com o que eu comia, como dormia ou quem via.

Nosso relacionamento era simples e sem tensões. Porém frio e vazio.

E monótono sem qualquer leveza ou graça; e tais são os relacionamentos entres pessoas depois de muito tempo iniciam a se desconsiderar mutuamente, estranhando-se, mesmo vivendo sob o mesmo teto.

Sem mais momentos de aproximação ou carinho. Finalizados os traços na relação remetem à paixão ou amor atormentado - às vezes doce, às vezes amargo - como o sabor do absinto.

Não havia nada, de ambos, a lembrar as explosões de emoção do passado. As altercações sonoras, irritações e jorros de ódio, o que terminava em minha esposa viajando ao exterior ou a visitar seus parentes.

A mim apenas obrigado mandar pequenas somas para sua manutenção.

Minha orgulhosa companheira e sua família viviam de meus proventos e apesar de muito desejar isso não ser fato, infelizmente não havia como recusar meus rublos.

De tempos em tempos ocorria nos encontrarmos em um dos corredores da casa, ou pelo jardim. Fazia eu delicadas mesuras, com cumprimentos a curvar-me.

Ela sorria graciosamente. Falávamos da meteorologia, a ventilar ser o momento de reinstalar as venezianas duplas e comentar dos animais ao longe marchavam sobre o dique, a tilintar seus sinos presos aos arreios.

Em certo dia, apesar de ela seguramente jamais tê-lo dito, juraria ter ouvido claramente mencionar 'sou a esposa fiel sempre desejou, não mancharei seu nome ou reputação.

Porém, prezado consorte, deixei de amá-lo. Há muito tempo.' "

A genialidade nos contos de Chekhov é a absorção e transmissão, na mais completa atualidade, dos exemplos atemporais, daquilo Nelson Rodrigues diria: "somos assim."

E a mim só cabe repetir, a pobremente macaquear o grande Nelson: de fato, somos assim.

O grande Anton Chekhov, um gênio da escrita.

Comentários (clique para comentar)

harald wittmaack - 21/03/2015 (20:03)

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Izabel - 04/03/2015 (16:03)

infelizmente, somos assim, mas o somos purque queremos, podemos renovar ou partir para outra, ou não? Parafraseando Caetano.

Hermógenes - 04/03/2015 (10:03)

Sim, e em tempo ilustre anônimo/anônima. Vá tomar no seu cu.

Hermógenes - 04/03/2015 (09:03)

Eis que surge das trevas o grande anônimo entendido de Chekhov e a me conhecer pelo nome não-divertido, com direito a esculhambação. Porém desta vez, ilustre anônimo, sugiro ir procurar mais o que fazer. E estudar melhor o grande russo. Talvez, para sua decepção, o conto de fato existe.

- 04/03/2015 (09:03)

Mais um inventado, é Seu Tumais? Tchécovi nunca escreveu isso.