Ser humano, do verbo ser...
Em uma "postagem" de rede social, se apresenta pequeno vídeo. Desenho animado esmerado, me parece espanhol, sobre menina tutela de forma natural e amável companheiro de escola com paralisia cerebral e suas inerentes dificuldades de movimentação, fala e contato.
A carga emocional, mesmo sendo animação, é pesada. Complexa.
E me recordei amigo, nessas condições, carregado pela mãe até quando essa não suportava mais o peso do menino. Brilhante jogador de xadrez, a função cerebral intacta, porém literalmente aprisionado em seu próprio corpo.
O convívio era tranquilo, brincava-se, jogava-se, conversava-se. Por fim nem notávamos mais as dificuldades, fazia parte do grupo.
Contratou a senhora auxiliar de enfermagem para o cotidiano do rapaz, que crescia, todavia as dificuldades também. Banho, as questões da higiene íntima, os assuntos sanitários e de alimentação requeriam ajuda.
E a moça o fazia com esmero, aliviando a carga da mãe de nosso amigo.
Até certo dia pedir, como dizem por essas terras, "ser mandada embora".
Abismada, a mãe do nosso amigo antevendo dificuldades, implorou não fosse embora a moça. Inquiriu e desconfiou: está grávida do namorado?
Não tinha namorado detonou, mas sim, estava grávida; e em breve não teria mais como ajudar nas questões do cotidiano de nosso amigo. A mãe do rapaz conjecturou sobre o evidente, conversou conosco no estilo: será que... mas, será?
Sim, era o caso.
Na intimidade com a auxiliar, por longos períodos, os dois se entenderam e a pobre moça em sua ingenuidade não imaginou ser possível. Porém o amigo era completo nesse quesito.
Assustada com as consequências, a hoje nora da mãe do rapaz, recebeu todo apoio e carinho, a ficar. Suplicaram e não voltou ao Nordeste miserável à época, arrumou-se mais alguém para ajudar e o casal vive feliz, com seu rebento. Esse hoje adulto, homem normal.
A jogar xadrez com seu pai.