Palavras amáveis não custam nada, mas obtém muito!
Por Harald Wittmaack, de São Paulo.
Há 10 anos tenho uma folha de papel com esta frase afixada no armário em frente à minha cama, de forma que posso vê-la assim que acordo. Dependendo de minha capacidade de percepção, posso notá-la diariamente. Ela simboliza um recomeço.
Queria fortificar este hábito pouco praticado por mim. Um desafio pequeno diante de dificuldades bem maiores que enfrentava na época, em que precisava mais uma vez me reerguer, recomeçar, iniciar uma vez mais um ciclo de vitórias e encerrar um de derrotas.
Claro que não bastava comprar o livro "O Segredo" e ler sobre "o poder da atração". Naqueles dias de vacas magras e desânimo, o livro famoso de Rhonda Birne trazia uma teoria quase milagrosa. Mas a prática infelizmente mostrava caminhos mais lentos e espinhosos. Envolvia mudança de hábitos, o que em qualquer situação requer muito esforço.
Um dos pensamentos de Einstein que me chamava a atenção era: "Não há prova maior de insanidade do que fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes". Para complicar outros pensadores diziam: "o ser humano é uma criatura de hábitos". Sim, somos criaturas formadas pelo hábito. Portanto seguindo um caminho mais longo, eu me propus como meta algumas mudanças.
Com certeza não me tornei um expert no assunto " palavras amáveis", mas sou melhor hoje do que à época. A batalha porém não se resumia a isto e estava somente começando. Dificuldade para rir nunca foi meu problema, mas a vida, com seus ciclos vitoriosos e de derrotas, por vezes me tirava o prazer de rir e diminuía a capacidade de ser gentil com os outros.
Este mais recente ciclo de derrotas, diferente de outros já enfrentados por mim, foi mais trabalhoso de reverter. Já estava com meus 50 anos e desta vez sem dinheiro algum e com pouco ânimo. Mas eu progressivamente fui partindo para ações inusitadas (Grande Albert Einstein!).
Com pouco tempo melhorei aquilo que é chamado de processo de manifestação - P>S>A- no tópico que mais falhamos, no A de ação. O P de pensar e o S de sentir vai no automático, mas agir é questão que geralmente falha. Alguns anos de terapia comportamental já haviam propiciado uma melhora no meu auto-conhecimento. Mas a determinação em mudar o que fosse necessário ainda estava fraca.
Aos poucos recuperei a vontade de ler e passei a dar treinamentos em empresas com enfase em relações interpessoais. Isto me fazia ler mais ainda. Estava então de volta a São Paulo, minha terra natal, após 15 anos. Com a ajuda de amigos, irmãos e dos filhos começei esta nova caminhada. Mudanças feitas traziam melhoras. Mais mudanças e mais melhoras.
Para minha surpresa por vezes me deparava com amigos a perguntar como posso rir com freqüencia, falar em alegria e até em felicidade, se a vida é tão difícil.
A resposta não me era difícil, mas complexa. Seria o caso de eu perguntar: Você tem tempo?
Com certeza este artigo não será suficiente para a complexa resposta, mas espero que consiga transmitir alguns pontos importantes desta caminhada, que envolveu o aprendizado de conceitos que não conhecia, outros aos que não havia dado a devida atenção e fortalecimento da capacidade de mudança. Algo aparentemente simples, mas nem tanto. Talvez devesse ter lido várias vezes "O Segredo". Será?
Estas mudanças esbarravam no orgulho e arrogância típica dos humanos. Pois é, sou um ser humano, aliás apenas um ser humano!. O ser humano tende a gostar de brincar de "Gabriela", aquela de Jorge Amado, e seguir o perigoso refrão da música: "Eu nasci assim, eu cresci assim, eu vou ser sempre assim!".
Geralmente mudanças requerem uma rendição e um redirecionamento de pensamentos e hábitos. Com bastante empenho creio que consegui melhoras, usando a estratégia da "cauda longa", ou seja pequenos esforços, mas constantes, o que ajuda a não desistir.
Este ser ansioso então resolveu aprender a não ter pressa, ou menos pressa. Leu um pensamento de Goethe, que afirmava: "onde você está é menos importante do que a direção; pois se você não sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve!". Entendi como "não tenha pressa, saiba para onde quer ir!"
Para progredir, tive que desaprender coisas antigas e aprender coisas novas; até rever pensamentos. Saber o que significa PNL, ler muito sobre filosofia, pensadores e psicologia. Uma viagem fantástica, conhecendo pensadores e mestres maravilhosos.
Além disso, para haver algum sucesso percebi que teria que combater meus preconceitos e ignorar os de pessoas mais próximas, rever julgamentos, minimizar a prática do julgamento alheio, aprender a sentir e expressar gratidão. Só isto. Fácil, não?
Quanto às ações inusitadas e não fazer sempre o mesmo, lembro-me do dia em que resolvi ousar e conhecer uma sala de anônimos, aquelas em que as pessoas se reúnem e estudam 12 passos de recuperação, geralmente associadas a algum vício. Escolhí a que me parecia a mais inofensiva: Neuróticos Anônimos.
Era uma quinta-feira, fui só e sem ninguém saber. Curioso para saber o que eles consideravam neurose. Não me senti muito confortável, mas fui muito bem recebido. Pensava: "Aqui só deve ter loucos e bandidos". Logo percebi que estava enganado. Com o tempo eu conheci outras salas de anônimos, ligadas a alcoolismo, drogas, jogo, à compulsão por compras e a de dependentes de sexo e amor. Não que eu tenha todos estes vícios, Mas eu percebi que de uma certa forma eu era compulsivo e apressado. Muitas coisas eram 8 ou 80, geralmente 80, formiga ou elefante. Adoro sal, tomo café em quantidade, comida é prazer. Achei que poderia ser útil participar.
Valeu a pena, não perdi nada, só ganhei. Conheci pessoas fantásticas. Busquei e encontrei, a custo zero, novos conhecimentos e um caminho para a serenidade,. Pelo menos uma serenidade maior do que tinha. A dificuldade em conseguir mudanças diminuiu bem e a prática da "escutatória" sem julgamento alheio foi um grande aprendizado. Passei a participar de pelo menos uma reunião semanal, o que me faz muito bem, sendo ótimo para quem sempre foi ansioso como eu. E os loucos e bandidos então? Não os encontrei até hoje.
Com a extensão deste artigo já extrapolada, na tentativa de uma necessária sintese, quero recorrer a uma bela metáfora, a do "Bolo delicioso e seus ingredientes, que avulsos não tem sabores muito agradáveisl".
Em outras palavras, quero mencionar alguns importantes ingredientes (conceitos, leituras, pensadores) de grande importância na confecção deste bolo chamado retomada da vida e da alegria. Portanto vou apenas listar os ingredientes, pois o detalhamento de cada um renderia um livro.
Acredito os ingredientes podem ser úteis para todos que queiram transcender, mas como todo ser é único, a dosagem é pessoal e cada qual deve fazer o seu bolo. Eu fiz o meu. Em tempo, algumas lágrimas às vezes entram na composiçãoa, mas é saudável, acredite.
Aqui os ingredientes que usei, de forma resumida:
A Teoria de Nietzsche. Fazer a travessia, analisar as suas próprias crenças e valores e ao final saber que nunca é caro o preço pago por alguém para ser ele mesmo.
Estudar o conceito de complexidade, estudar Edgar Morin. Reconhecer que na vida pessoal o pensamento dualista, de ser ou vencedor ou derrotado, de saber quem é o certo, quem é o errado, quem tem razão, quem não tem, quem é bom, quem é mal, de buscar pela única maneira de fazer algo certo, não é o melhor caminho. Um caminho muito simplista que já é ensinado desde cedo nas escolas e desde sempre pelos meios de comunicação. Aprender a praticar o diálogo como gerador de idéias, sem a necessidade de convencer ninguém a pensar como pensamos.
Fugir dos extremos do pensamento não complexo. Fugir do 8 ou 80, do tudo ou nada. Resgatar o conceito de escala. Aprender a usar a escala na avaliação de defeitos ou qualidades. Em se tratando de defeitos não trabalhar com sim ou não, como num programa de perfeição a eliminar utópicamente as caracteristicas indesejáveis. Mas buscar uma possível redução numa escala, talvez de 0 a 10.
Estudar a vida de Victor Frankl, autor do livro "Em Busca do Sentido", que aborda a questão, para que serve, que sentido tem a vida. A história de alguém que perdeu tudo, sobreviveu a um campo de concentração, mas não desistiu da vida. Criou a Logoterapia.
Pesquisar a diferença entre espiritualidade e religiões. Aprender a se comparar com uma única pessoa, consigo mesmo smo, você no presente com você no passado recente ou mais distante. Contrariando e escapando do pensamento vigente e estimulado pela sociedade de consumo.
Acreditar que somos responsáveis pelas nossas escolhas. Reconhecendo que somos criaturas de hábitos, porém sabendo que tudo começa no pensamento. Portanto devemos ser vigilantes dos nossos pensamentos, que transformados em ações e hábitos, moldam nosso caráter e determinam nosso destino. Em suma, adotar o budismo como um manual de conduta.
Ler sobre psicologia e suas diversas linhas. Entender talvez que o ego nada mais é do que a estrutura mental, que sem parar o remete ao passado e ao futuro e que o faz acreditar ser este ego. Desta forma impedindo que você viva o presente.
Buscar a meditação, o controle da respiração e desta forma parar a estrutura pensante, o ego. O livro "O poder do Agora" ganhei de um amigo. Tentei ler algumas vezes, sem sucesso. Após alguns anos, passei a entender o conteúdo para minha surpresa.
Finalizo pedindo desculpas pela extensão, mas creio que me entusiasmo por ter recuperado a alegria e a capacidade de rir. Recentemente minha filha de 28 anos me "elogiava": "Pai, que bom! Você ficou um velho bem-humorado!"
Gostei do bem-humorado, mas quanto ao velho retruquei: "Velho o corpo ficou, mas a alma ainda não permiti envelhecer!"
Acrescentei: "Monica, não acredito na felicidade como um período duradouro, perene, mas em momentos de felicidade, sim. Aliás este tipo de felicidade é um dever, de outra forma vamos levar amargura para todos que nos rodeiam. Ninguém merece".
Mônica e meus filhos Leonardo e Bruno se permitem rir. Fico feliz.
Rir faz bem, além do mais, lamúria traz lamúria, gratidão traz gratidão.
Bom bolo a todos!