Jogo de soma diferente de zero.
Por Heródoto Barbeiro, de São Paulo
Os bots chegaram à redação e os jornalistas não deram conta. Eles são softwares capazes de escrever artigos jornalísticos. A tecnologia para a escrita automática é uma realidade com o desenvolvimento da inteligência artificial. Portanto, não é apenas a mudança de modelo de negócio que ameaça as empresas jornalísticas, e o jornalismo, é a tecnologia. Esses softwares são capazes de escrever informação, mas o público não sabe a diferença de informação e notícia. Ela é capaz de manter metade da população chinesa conectada na internet com uma gama de noticias que, só não é maior, por causa da censura estatal. Graças a ela estamos vivendo um mundo de abundância de informação e comunicação. Com isso as mudanças são rápidas e nem jornalistas, nem empresários da comunicação prestam atenção. O que é pior, não ousam desenhar cenários com a utilização dessa tecnologia, como se fosse ficção e não uma realidade atual. Não precisa chegar a exaltação dos sindicatos italianos que já proclamaram que querem acabar com a profissão de jornalista.
Em 2010 o ser humano gerava a cada dois dias cinco exabytes de informação. Hoje se produz essa quantidade a cada três minutos. Um exabyte é 1 seguido de 18 zeros. Isto deixa muito para trás a exclamação que uma semana do The New York Times de informação era mais do que um homem podia acumular em toda a sua vida no século 17. As tecnologias explodem e são compartilhadas como nunca na história da humanidade. Empresas de bilhões como Kodak, Blockbuster e Tower Records sumiram. Surgiram as bilionárias You Tube, Google e Apple. Os smarts phones estão disponíveis para receber e emitir noticias no meio de um alagado arrozal em Mianmar, ou na mão de duas crianças de uma aldeia “ das mulheres girafas “ na Tailândia. Não há volta. Não há lugar no mundo que não esteja conectado e portanto submetido as transformações do momento histórico que vivemos.
Diante dessa paisagem é preciso levantar a cabeça e olhar o que se passa no mundo do jornalismo. É possível que os robots sejam capazes de escrever artigos com mais rapidez e exatidão que os jornalistas. Contudo a nosso favor está o fato que dividimos conhecimento, trocamos informações e vendemos ideias. Sabemos que cultura é a habilidade de estocar, trocar e inovar idéias. No comércio o resultado da transação é sempre de soma zero, como trocar um boi por uma vaca. Cada um continua apenas com um bovino. Informação é a nossa brilhante commodity, que transformamos em notícia. É um jogo de soma diferente de zero que só os seres humanos são capazes: quando se troca uma informação por outra, a soma é duas idéias para cada um e não zero.