O Brasil na mira de Hitler
O titulo do livro me lembrou, quando moleque, o escapulir da aula de confirmação numa igreja luterana da Av. Rio Branco, aqui em São Paulo e olhar as bugigangas eletrônicas à venda na Rua Santa Ifigênia.
A região é o antro da baixa prostituição, com seus cinemas de péssima qualidade e filmes de última categoria. Com na época sugestivos títulos: “Escravas de nazistas”, “As nazistas eróticas sem máscaras”, “O homem de Itu”, “Brasileiros têm o que elas gostam” e outras bobagens.
Que um querido amigo, precocemente embigodado, e enganando porteiros de cines, assistia e nos relatava os detalhes picantes, apesar de seus 15 anos. Os chamava de “filmes de guerra” aos primeiros ou, aos nacionais, de “pornô-xancada”, ao invés de utilizar o termo “pornochanchada”.
Por alguma razão, deve ter enxergado “xancadas” (o que seriam?) nas protuberantes imagens das eróticas escravas nazistas; ou no "homem de Itu..."
(Película com o sofrível mas engraçado Nuno Leal Maia; quem quiser assistir, recomendo, como curiosidade...). Certa cena jamais esqueci, quando, furtivamente corrompido o porteiro de um sonolento cinema, consegui entrar e ver o troço.
A mocinha (Aldine Müller) sai, semi-nua, de um quarto onde se encontrava o tal jumentesco cavalheiro de Itu, declamando a uma outra senhora (Consuelo Leandro) estar se sentindo muito enjoada, muito mal enfim. Perguntada se foi "comida", responde chorosa e bobamente:
"Fui..."
O público vinha abaixo, batendo os pés!
Porém “O Brasil na mira de Hitler” é livro e coisa séria; foi-me um grande prazer ler. Cativante.
Desvenda a pouco comentada luta de muitos brasileiros, civis a maioria, contra os submarinos do Eixo, alemães e italianos, incumbidos de cortar suprimentos brasileiros aos EUA, como mica, couro, café, cacau e alguns minérios específicos.
Descreve com minúcias a politicagem entre os membros da ditadura Vargas, alguns a favor da Alemanha outros, como o chanceler Oswaldo Aranha, pelos americanos.
Que mais ofereceram; não se importaram com o fascismo brazuca da ditadura Vargas e trouxeram um pouco da guerra para cá, com suas bases em Salvador, Recife, Natal e Noronha. Cedendo navios caça-submarinos e aviões, que afundaram 12 submarinos alemães na nossa costa, até 27 de setembro de 1943. Depois os alemães já estavam militarmente depauperados, sem combustível e sumiram: foram defender a Alemanha, a navegar pelo Atlântico Norte.
Curiosamente morrem mais brasileiros entre civis, marinheiros e passageiros no mar, torpedeados pelos alemães, que combatentes na FEB.
Dos 25.000 pracinhas enviados à Itália, sucumbem próximo de 400 em batalhas e acidentes. No mar, principalmente ao largo de nossa costa e a caminho dos EUA, mais de 1.000 pessoas deram suas vidas por esta asneira que é a guerra.
Editora Objetiva, 2007 escrito pelo Roberto Sander.
As usuais falhas de tradução e revisão dos termos específicos, como chamar os submarinos alemães de “U-Boats”, sendo o correto “U-Boote” e outras poucas; sem tirar porém o prazer da leitura.
Recomendo.