Fábula da Agência dos Correios
Por Maria Eugenia Farre, de São Paulo
Esta semana fui buscar uma encomenda na lotadíssima agência e vi dois jovens tomando um imenso esculacho do guarda-fardinha-terceirizado dos Correios porque tinham feito uma foto da fachada da agência.
Dou uns 30 anos a esses dois moços que não tinham cara dos às vezes deseducados motoboys, mas sim de jovens empresários, mandando amostras para algum lugar.
Além do abuso de poder do fardinha, me chamou atenção o fato de que, como os moços alegavam em sua defesa, não havia, em nenhum lugar, cartaz que informasse a proibição de fotografar. Proibido fumar, proibido isso e aquilo e mais aquilo outro, sim, mas proibição de tirar fotos, onde está esse cartaz?
O fardinha exigiu, com bastante destempero, que os meninos apagassem a foto do celular e, para evitar mais confusão e despachar logo seus pacotes, eles fizeram o que o tiranete mandou. Achei estranho, mais estranho ainda porque não havia movimentação nenhuma na frente da agência na hora que eles tiraram a foto.
O momento fotogênico, no meu entender, seria quando embica o caminhão para carregar os pacotes que os funcionários arremessam com urgência furiosa e total falta de cuidado para o fundo do baú, tenham eles ou não chancela, autenticação, remetente ou o diabo.
Agora, o curioso é que, passados uns 30 minutos, pois a espera foi longa e tediosa, duas moças trabalhadoras, com uniformes de um fabricante de celulares, começam a tirar fotos do interior da agência, bem nas fuças do fardinha.
Fiquei imaginando que presenciaria o segundo esculacho do dia. Ledo engano. No que o fardinha fez que não com o dedo em riste para as senhoritas, elas alegaram que estavam tirando a foto para mostrar para a chefe porque demoravam tanto em voltar.
O dedo em riste virou na hora um polegar para cima, a caratonha brava se desfez num sorriso. Com covinhas, pois o segurança-fardinha fora com elas agraciado.
Confesso que não entendi nada e não sei se chego à moral da história.
Finalizo o relato com um último olhar trocado entre o fardinha e eu, observadora nunca passiva. Cruzamos os olhos enquanto eu atravessava a agência de volta ao meu lugar, indignada, depois de contar para os moços do esculacho, que as moças do celular tinham tirado fotos impunemente na agência dos Correios.
Eu vi duas coisas nos olhos do fardinha.
A primeira foi medo, aquele medo de quem teme uma merecida bronca; e a segunda foi vergonha.
Muita vergonha.