Diplomatas sem modos
Hoje chegando em casa vejo carro com placa azul, iniciando em EMB, estacionado sobre a calçada, na contra-mão. Em local proibido. A picape CET passa por coincidência, aponto para o evento, o mancebo ri e continua. Pelo que entendo não adianta multar, nada é cobrado do corpo consular, seja de onde for.
Cortesia entre governos.
Muitos desses automóveis vejo sendo usados para levar e buscar crianças em escolas sofisticadas, levar e trazer pessoas de aeroportos, estacionados em vagas de deficientes ou simplesmente onde é totalmente proibido, o tal "E" cruzado na placa, duplamente.
A rigor esses são apenas menores ilícitos.
A subtração mesmo é a compra e o uso particular, por conta do erário público, desses automóveis, sempre luxuosos, blindados, modelos sofisticados. Com impostos exigidos e usados para que filhos de diplomatas e suas esposas possam ser levados às escolas, supermercados, festas; e V.Sas. pagam a conta...
É global.
Nossos diplomatas daqui abusam, mas os demais também. Uma das maiores questões com os corpos consulares e junto à ONU em Noviiorque, é a falta de educação de diplomatas e seus motoristas no trânsito de lá. E nada cobrado, apesar do departamento de trânsito andar brigando por isso, eles querem as multas ou alguma educação no trânsito.
Apesar do termo diplomata ser praticamente sinônimo de alguém interessado, de forma elegante e pouco contundente, em resolver questões de atrito, mas sempre com pouco ou quase nenhum sucesso, no cotidiano são arrogantes, indiferentes e até agressivos. Basta procurar algo junto ao consulado alemão em São Paulo, por exemplo. A iniciar pelos horários inusitados de atendimento ao público. Às sextas-feiras à tarde não rola nada... os cubanos nem atendem segundas e sextas, talvez pausas para algum socialismo o muerte...
Há dois anos fui convidado para um evento (por nossa conta, como contribuinte e os demais milhões de brasileiros pagam para isso) na embaixada brasileira em Roma. Comemoração da Proclamação da República. O local é lindo, na Piazza Navona. Um palácio com bustos de personalidades romanas de 2.000 anos, imenso num dos locais mais caros da cidade.
A apresentação era da grande pianista portuguesa moradora na Bahia, Maria João Pires e o celista brasileiro Antonio Meneses. Convidados apenas diplomatas de outras embaixadas e alguns amigos deles.
Um primor, aplausos. Eu um pouco pensativo, achando injusto aquilo tão exclusivo.
Terminada a apresentação serviu-se um bufê frio, em salão ao lado.
Estouro da boiada, homens e mulheres elegantes correndo para conseguir uma torrada com salmão, antes que algum vice-consul do Fodistão abocanhasse. Empurra-empurra na fila para os garçons não esquecerem de servir o vinho, com copos levantados e "ei, ei", a não ser passado ao largo o Beaujolais...
Minha esposa, baiana com origem nas mais discretas estirpes, olhou para aquilo e detonou um amargo: affemaria, que modos...
Pois, todos diplomatas.
É apenas o termo, não estão nem aí para quem representam, nem preocupados com os resultados de suas gestões. Talvez por isso os países um tantico mais avançados raramente colocam diplomatas de carreira em postos como ministros do exterior ou em embaixadas importantes...