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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Barbarossa...

Anos atrás a filha viaja a Berlim e se hospeda em certa república de estudantes. Entre eles um jovem australiano, a escrever sobre a Grande Guerra.

Ao retornar, comenta comigo da quantidade de livros o doutorando possuía sobre o tema. - "Pai, você iria adorar..."

Hoje ela é editora aqui por São Paulo; recentemente me trouxe um exemplar sobre a Operação Barbarossa, o maluco ataque de Hitler contra a imaginada impotente União Soviética.

Bem escrito, um pouco condicionado às fontes alemãs, diz pouco dos russos. Mas fluido e fascinante pelas estatísticas sombrias.

Operation Barbarossa, de David Stahel, Cambridge University Press, 2012.

Quando a certo ponto da leitura o autor se declara australiano, caiu a ficha, como se diz. Era quem havia cedido seu quarto ao jovem casal de brasileiros em curso de alemão por Berlim. Coincidência, a filha nem se recordava mais.

A loucura de Hitler e domínio sobre seus comandados, que ordena o insano ataque imaginando um passeio no parque, leva apenas pelo lado alemão mais de 400.000 jovens soldados à morte nas primeiras 9 semanas do ataque.

Os russos e os partisans (guerilheiros e soldados que ficaram cortados pela frente de guerra e operavam na retaguarda contra os alemães) eram bem mais bem experientes e organizados, com bons suprimentos, que o insano cabo austríaco metido a grande marechal imaginava (e acreditava...).

Loucuras dos homens, loucuras da incontestada obediência, esse mistério para mim.

O livro foi rejeitado para a tradução e publicação, por enquanto.

Mas recomendo a quem se aventura no idioma inglês ler, mormente partes como a a carta de um soldado alemão para casa, mostrando o grau de alienação sobre a realidade da matança, mesmo em meio a ela:

"Nossa coluna marcha... deseja ir a Moscou. Era nosso único objetivo. Disseram que seria conquistada em breve e para cada um de nós significaria o fim dessa marcha, descanso, e novamente uma vida organizada, excitação, civilização, mulheres, relaxamento da disciplina, quem sabe... medimos no mapa, só 290 km através dos campos até Moscou. Já havíamos marchado 965 km desde a Prússia Oriental... seria algo rápido".

Hitler, contra as recomendações de seus generais, mudou os planos, assumiu o estado-maior do seu exército e deixou Moscou de lado, procurando atacar Leningrado e a Ucrânia. Dizia serem razões políticas e econômicas...

Porém em seu inconsciente provavelmente já sabia a coisa toda perdida, tanto que seus generais nem protestaram...

Ninguém vence os russos, eles são assim.

Um belo livro, excelente trabalho de pesquisa.

Comentários (clique para comentar)

Francisco Taborda - 23/09/2014 (13:09)

Acho que, sem querer, descobri o motivo da debacle da Operação. Reparou nos bigodes das figuras da capa. Não se pode ganhar guerra alguma com bigodes, assim....;-)