Dilma, Copa e seus Desdobramentos
Por Erica Teixeira, de Salvador
Tenho visto as mais diversas manifestações nas redes sociais sobre o suposto elo indissociável entre Dilma, o PT e a perda do Brasil na Copa. Gostaria de saber, honestamente, o que deve ser mudado no país que já não deveria antes mesmo deste partido estar no poder. A título de conhecimento, deixemos claro: não sou PTista e sim, acredito que Dilma não deve ser reeleita. A oxigenação partidária é imprescindível para melhor movimentação e estratégia de oposição (a concorrência é o que nos obriga a elevar o nível diante dos concorrentes, via de regra). Sem contar que o êxito de outros candidatos pode amenizar um pouco o processo de prostituição partidária que estamos vivendo.
O Brasil, nos últimos anos, tem me assustado com todo esse ódio exclusivo a Dilma e ao PT. E pior, ainda que de olhos bem abertos às noticias, revistas, matérias jornalísticas e falatório corriqueiro, acredito sim que estão fazendo da presidente um bode expiatório de uma problemática sociopolítica que perdura por mais de 500 anos e que, consequentemente, repercute em eventos de porte como o da FIFA. Ou vocês acham realmente que Lula foi pioneiro na arte do mensalão ? Expressar indignação com a seleção, com a falta de estrutura do país, com o superfaturamento da copa são atitudes conscientes, positivas e que demonstram algumas das inúmeras falhas governamentais, mas me parece ingenuidade demais acreditar que qualquer outro partido que estivesse no poder possivelmente não estaria fazendo o mesmo. Cresci em um Estado cujo coronelismo foi vetor condicionante durante décadas (protagonizado em diversos momentos pelo PFL), ou seja, o voto de cabresto e os enriquecimentos ilícitos aconteciam exatamente como ocorrem hoje, mas com algumas diferenças: a proporção não era a mesma e os meios de comunicação eram bem mais precários, o que obviamente impedia que metade das informações, a todo momento, chegassem até nós.
Ainda que eu discorde de muitos por cento que tenho visto e vivenciado nesse governo, ainda que eu entenda bulhufas de futebol, ainda que eu tema o futuro de minha geração, ainda que eu esteja preocupada com todos os entraves econômicos que o inchaço da máquina estatal tem causado e ainda que meu candidato tenha inúmeras desavenças com a atual gestora do país, nunca antes na história política dessa nação a classe do povo teve tanto direito de voz como agora. E democracia é isso: direito de falar e obrigação de ouvir para incomodar menos o outro(ou, nas palavras de Olavo de Carvalho, gerir o dissenso).
E mais, mesmo que nossa democracia esteja destruída pela alienação de consumo (subversivamente caminhando, talvez, para uma ditadura democrática de consumo - que sim, está sendo solidificada pelas políticas públicas PTistas), nem isso lhes foi dado durante o mandato de outros líderes. Só a classe baixa, seja ela C, D ou E sabe o que passou, pois nós, castas relativamente abastadas, muitas vezes nem tentamos enxergar realidades diversas da nossa. Aliás, nunca passamos fome. E é com isso mais de 48% dos brasileiros está preocupado: em ter comida na mesa, seja através de bolsas-auxílio, seja através do suor de seu trabalho, grande motivo pelo qual acho que, infelizmente, nossa Dilma boladona vá ser reeleita. Portanto, não importa se o país vai ganhar, perder, tomar lavada ... uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Façam-me o favor de não confundir alhos com bugalhos. Deixemos que os comentaristas desportivos façam suas vezes e os verdadeiros responsáveis pelo fracasso do time (porque antes de existir uma seleção deve existir um time) assumam suas (ir)responsabilidades.
Agora fica a pergunta: quais teriam sidos os comentários caso o Brasil fosse hexa ?
E obrigada, seleção ! Jamais abandonaremos a luta, pois somos brasileiros e não desistimos nunca.