Trabalho, trabalho, trabalho...
"Na minha opinião, é uma vergonha que haja tanto trabalho no mundo. Uma das coisas mais tristes é que a única coisa que um homem pode fazer durante oito horas diárias, dia após dia, é trabalhar. Eis aí a razão porque o homem torna a si próprio e a todos os demais tão miseráveis e infelizes."
William Faulkner
Não, não é daquelas abobrinhas de Internet, frases atribuídas a quem nunca as proferiu, poesias jamais escritas, como as de Jorge L. Borges, o campeão, ou Neruda, seu vice. Parece-me, vindo de onde veio, ser coisa séria. Faulkner realmente o disse, apesar de trabalhar um bocado.
Conheço alguns Lebenskünstler que passam os dias a sustentar apenas aquilo que apraz. Que não fazem nada por obrigação laboral, como suportar chefes e comandos ou vender e vender-se para sobreviver. São porém poucos os que gerenciam as vidas com algum que sobrou, auferido no passado ou herdado, ou mesmo pendurado em pais, parentes ou amigos. Sem culpas e compromissos.
Discordo de Faulkner, na plenitude de meus direitos inalienáveis ao trabalho. Os "artistas da vida", estes Lebenskünstler como os tratam os alemães, são normalmente criatura sofridas, insatisfeitas e deprimidas que se escondem por detrás da denominação. Basta ver alguns verdadeiros Künstler (artistas) que apesar de providos até o final dos tempos com boas verbas e conforto, estranhamente se batem por aí a fazer músicas (Paul Mcartney), escrever (Salman Rushdie), cantar (Roberto Carlos) e por aí vai... Homens que decididamente nada mais necessitam fazer a não ser regar as plantas e olhar as estrelas, mas continuam por aí. Dando duro. Por que?
Raboti, diriam os russos, como a ser a mais importante das atividades humanas. Trabalho, que sempre exista e seja necessário.
Evidentemente há trabalhos e castigos, com terríveis nuancias. Quando vejo homens maduros, a receber um salário de fome para por 12 horas seguidas minerarem pedras ou mulheres tristes e curvadas a plantar arroz, pouco posso elogiar a instituição destes trabalhos. Este, o castigante, injusto e expoliativo modo de ocupar o próximo, para que nos venda sua força e, ingratidão, pague-se com pouco.
Infelizmente regra. Mundo afora.
De bolivianos costurando 14 horas ao dia em catacumbas paulistanas, crianças em carvoarias de Minas, por aqui não somos melhores a maltratar os outros; temos tradição nisto, a sermos os últimos libertando os escravos. Em data que hoje ignoramos, nem feriado é o 13 de maio. Que vergonha!
Faulkner pode ter sido engraçado, apenas comentando ironicamente à lá Mark Twain sobre as incongruências da vida. Talvez.
Mas não troco meus momentos de concentração no trabalho, com algum resultado, por tédio longévolo, a procurar o que fazer. Nem ele o fazia, por isto tanto escreveu.
Somos assim...