Somos como?
Procurando associação com a empresica onde trabalho, o senhor alemão me pergunta ao telefone como anda a evolução da abertura dessa sociedade. Endosso havia alertado antes, abrir uma empresa no país ser trabalho de gigantes do papel, burocracia ciclópica, muita corrupção, despachantes e advogados ávidos por dinheiro. E lento, bastante lento. De fato, após 7 meses ainda não temos os papéis finais.
Citou a mim o sujeito, somente na Índia ser também demorado assim, porém lá com uns trocos resolve-se, corrompendo.
A conversa evoluiu para as características de comportamento de cada povo. Dizendo conhecer muito do mundo, queria saber um pouco do Brasil.
E detonou a capciosa pergunta: como é alma brasileira?
Já que me encanto pelo tema, finalizando meus textos com a constante afirmação “Somos assim”, parei por instantes e sendo brasileiro me perguntei: como é nossa alma, o que nos faz diferentes dos outros povos?
Por alguma razão pensamos primeiramente em nosso lado negativo. E citei a ele:
- Odiamos regras, porém as criamos aos montões, nenhum país do mundo tem legislação mais complexa que a nossa, começando pelo recorde mundial de número de leis, mais de 360.000.
- Não gostamos de horários, somos notórios atrasadores. Existe até certo maluco código ser chique atrasar.
- Devedores e caloteiros contumazes, até nos gabamos disso. O hábito quase acaba com a economia do país, endividado e caloteando oficialmente, nos anos 1980.
- Racistas velados, falsos moralistas.
- Arrogantes, sempre discretamente nos achamos os melhores, principalmente no item esperteza, a enganar e enrolar os outros.
O alemão interrompeu e disse: a maioria dos povos tem isso, Hermó! E o que há de bom?
Pensei, pensei e detonei: temos alma com os necessitados, entendemos sua situação. Raramente maltratamos animais. Quando alguém sinceramente necessita de ajuda, socorremos. Animados, não nos perdemos em maldades pensadas e organizadas. Somos os melhores prestadores de serviços humanizados do mundo (enfermagem, acompanhamento, terapia, cuidados gerais, higiene, hotelaria, serviços gastronômicos, motoristas, serviço de bordo). Mães e pais pacientes, raramente violentos ou repressores, penso até com algum exagero. Cuidadosos com o cotidiano dos próximos, carinhosos. Respeitosos com estranhos, principalmente com estrangeiros.
Nesse ponto disse o alemão: é, isso é o mais importante. Por isso provavelmente dizem Deus ser brasileiro.
Respondi: talvez, mas um Deus que nos dá a maior taxa em números absolutos de assassinatos, considerada uma epidemia pela OMS, deve ser um cara bem dúbio e confuso...
E por aqui, completei, somos um pouco confusos, à imagem Dele.
Somos assim...