A visita do presidente
Por Heródoto Barbeiro
O coronel tentou uma licença com seus superiores. Sua mulher tinha morrido em uma travessia marítima. Seus filhos estavam desorientados e ele precisava ir para casa. Um a um dos seus comandantes negaram a licença, ainda que por motivos tão importantes e dolorosos. Exaurida as possibilidades no exército, restou ao coronel uma tentativa última. Descobriu que o presidente da república estava hospedado em um hotel nas vizinhanças. Chegou à tarde e entrou na fila. Depois de várias horas, já noite, finalmente o presidente o atendeu. O coronel repetiu a sua história. O presidente, nervoso, naõ concedeu a licença e ainda por cima disse asperamente que tinha passado um dia atribulado, cheio de grandes problemas e ele vinha com um pedido desses. No dia seguinte, antes do toque de alvorada o presidente bateu na tenda do coronel.
Pediu-lhe desculpas. Fez um resumo de tudo que tinha ouvido e que o pedido dele era relevante e de forma nenhuma ele poderia ter tratado o militar da forma que tratou. Fez questão de chegar bem cedo, e disse que não tinha conseguido dormir ao avaliar o gesto que tinha tomado, ainda que o país estivesse envolvido em uma guerra civil e todos precisavam estar em seus postos de comando. O coronel agradeceu ao presidente Abraão Lincoln, o comandante em chefe do exército na Guerra da Secessão. Lincoln não só reconheceu que estava errado como chegou bem cedo na tenda de campanha para falar com coronel antes mesmo que ele levantasse. Um exemplo de humildade e reconhecimento de um erro cometido. Isso não diminuiu sua liderança, pelo contrário agiu como todos esperavam que ele agisse. Não é a toa que é homenageado com um memorial em Washington.
Essa história é contada por Ken Blanchard e Margret McBride como exemplo do que chamam de desculpa minuto (Ed.Campus). Voltar atrás, reconhecer um erro faz parte da gestão do Estado, da empresa e da vida pessoal de todos. Um pedido de desculpas não é uma forma de fugir de responsabilidade, pelo contrário, é assumir o compromisso de mudar o que está errado e dar um novo rumo para a situação. Porém, como o homem de barba e cartola, é preciso ser rápido. Não procrastinar, como dizem os doutos do parlamento. Uma vez constatado o engano, com ou sem dolo, é preciso corrigi-lo imediatamente, sem delongas ou novas desculpas. Quanto mais o tempo passa, maior o dano provocado intencionalmente ou não. O exemplo do presidente é uma lição de vida. Pessoalmente não me lembro de nenhum outro presidente, ou primeiro ministro, ou chefão que tenha tido a humildade de Lincoln de assumir pessoalmente um erro, ainda mais com um subordinado. Deu mais um exemplo que transcende a própria guerra civil americana.