Uthisha Mandiba
Por Heródoto Barbeiro, de São Paulo.
Graças a internet é possível saber que uthisha, na língua zulu, quer dizer professor. O zulu é uma das línguas nativas mais faladas na África do Sul, terra do Mandiba, o apelido de Nelson Mandela. Entre tantos elogios que recebeu em vida ou após a morte, nenhum foi mais abrangente do que o de professor. O Secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, representando todas as nações do planeta, chamou Mandela de professor. Ele ensinou a tolerância, a convivência com antigos adversários, o perdão aos inimigos, não violência como caminho para construir uma sociedade mais igualitária, a forma humana de combater o racismo, um dos maiores desvios da civilização e da humanidade. Deu aulas boa parte de sua vida. Na cadeia, na rua, nos guetos negros, nos palácios, nas organizações internacionais.Em todo lugar que era possível. Não desistiu nunca de ser um uthisha. Era um sábio. Só educação sob todas as suas formas pode modificar a natureza humana e a sociedade. Razão, ética, moral, confiança, respeito, compaixão. Para ensinar tudo isso não precisou de livros, nem de sala de aula, nem de lousa, nem de computador. Usava como material didático a boa fé, a crença que os seres humanos podem ser mudados para melhor se entenderem sua missão neste planeta. Sorrisos, abraços, serenidade eram sua didática.
A humanidade ganhou mais um mestre. Certamente está ao lado de Gandhi no panteão da paz. Seu exemplo mostra que qualquer pessoa pode ser um professor. Todos podem ensinar alguma coisa para outra pessoa, não só no campo material, mas principalmente no campo moral. Não é preciso ser PHd em nada, nem ter estudo na USP ou em Havard. É preciso ter boa vontade, disposição para compartilhar com outros o que sabe. Em algum momento do dia somos professores, no resto do tempo somos alunos. Estamos aprendendo com a intenção de espalhar o conhecimento e o respeito as pessoas, ao meio ambiente, e ao planeta. Para isso não é necessário diploma. É preciso coragem, determinação e compromisso com ideais transversais de culturas e povos.
Verdadeiros professores sabem que cultura não é tudo. É preciso ser acompanhada de sabedoria. O melhor professor é o sábio. Não é dono da verdade, fala com o coração e conquista a todos pela sua simplicidade e simpatia. O rosto e o sorriso de Mandela mostram isso. Um professor sereno que ensina ao seu povo e a humanidade a arte de viver em paz. Um mahatman. Um homem de alma leve. O exemplo dele enaltece a pessoa do professor, especialmente aqueles que diariamente se propõem a ensinar pessoas, que optaram por uma profissão que vai além de ser remunerado por um trabalho digno. São homens e mulheres que saem de casa todo o dia com a missão de tornar as coisas melhores, construir um pais, uma civilização um mundo mais pacífico. Espalhados pelas grandes cidades, pequenas vilas, escolas de concreto ou de lata, se movendo em ônibus, trens, carros ou lombo de burro, são imprescindíveis.