Das traurige Nichtwiedersehen
Hoje faz uma semana minha mãe velhinha se despediu, após curta batalha com as intempéries da idade, do decaimento físico, mental e talvez erros, médicos ou não médicos. Todavia erros fazemos nos momentos de tensão exacerbada, erros a rigor não são erros.
Imaginamos ser, não são.
E insisto nisso, culpei-me anos por questão similar no falecimento do meu pai, até o dia certa inteligente criatura me lavou a cabeça, pelo lado de dentro, e como dizem os alemães: “Da ist der Groschen gefallen”. Expressão nossa similar: caiu a ficha.
O luto com os muito velhos partindo é distinto, posso afirmar. É triste, porém não é tão cruelmente intenso, dolorido, desesperador. Mais certa saudade; e de alguém anterior, jovem, lúcida.
A crueldade dos anos passados a nos encher de rugas, manchas e orelhas imensas é algo a notar. Os pensamentos pouco concatenados, a memória a dar golpes terríveis. O tempo imenso a ir do quarto ao banheiro. A vulgarização impudica da ajuda necessária, com o séquito de pessoas a lavar, escovar, como se fosse recém-nascido. As tais criaturas cuidadoras, discretas heroínas e heróis do cotidiano a mostrar a humanidade não passa por igrejas ou prêmios Nobel, mas simples afeto, dedicação e duro trabalho, a serem extensão do frágil velho ser.
E diante de tudo isso, e mesmo assim, a ausência é complexa.
O imaginar jamais rever, ouvir, tocar. Pensar coisas improváveis, como reencontros com aqueles seguiram antes e saber a realidade ser outra. Desejar quem foi estar feliz; ou pensar estar triste.
Enfim, a morte não é explicável, por mais possamos procurar as razões. Seu momento, sua forma, nada sabemos. Nem queremos saber, na realidade.
Somos assim.
Adeus mãe.