Ridículo, ridículo, ridículo.
Por Osires Rezende, de Ipiaú, Bahia.
O generalíssimo Mariano Melgarejo é o protótipo do ditador populista caricato; semi analfabeto, cachaceiro e sifilítico, sua amante Juana um pouco mais letrada o levou para um recital de poesia e música, onde um catedrático erudito ia proferir uma palestra sobre Miguel de Cervantes e a poesia do século de ouro espanhol.
Durante a palestra o generalíssimo dormiu e acordou com os aplausos e quando soube que o palestrante elogiava Miguel de Cervantes, e por isso era aplaudido, tomou isso como uma afronta, pois confundiu o autor do Don Quixote com um outro Miguel de Cervantes seu desafeto e não hesitou mandou prender o catedrático ameaçando fuzilá-lo. Sua amante o dissuadiu argumentando que Napoleão Bonaparte ia ficar triste com este desrespeito às artes e a cultura, nesse tempo Napoleão já estava morto, mas Melgarejo obrigou o sábio erudito a passar-lhe um telegrama agradecendo por estar vivo devido a benemerência do grande Melgarejo, protetor das artes e da ciência.
Ninguém em Sucre tinha coragem de contestar Melgarejo, e eu assumo o ridículo de confessar que este déspota delirante é um dos meus heróis. Juana armou-se de treitas de alcova para salvar o catedrático, mas antes o embaixador da poderosa rainha Vitória, cuja marinha singrava hegemônica pelos Setes Mares do mundo teve a petulância de protestar contra aquela arbitrariedade e exigir a imediata libertação do inocente erudito, Melgarejo não hesitou prendeu o plenipotenciário de Sua Majestade, mandou aplicar-lhe 30 chibatadas na bunda e o obrigou a dançar na principal praça da capital da republica com um macaco e ria-se, embriagando-se com chincha, uma forte aguardente de milho.
Dá para acreditar nesta história? O romancista Marcio de Souza a narra no seu livro Mad Maria, pode ter algumas licenças poéticas. Quem é mais patético : o coitado do Melgarejo ou este desvairado escrevinhador do Bom-Sem-Farinha, que o tem como ídolo? Mas se não rirmos, submergiremos à miséria moral do populismo.
Ofereceram o gás natural boliviano ao general Geisel e este vetou rispidamente com o argumento de que “ os bolivianos não são sérios não cumprem acordos e no futuro nos darão o calote”.
É provável que o general Geisel fosse um boa praça bem humorado, mas posava de durão; “tá bom o povo quer votar! Então eu vou fazer uma abertura lenta, gradual e segura, mas vão se arrepender”, e quando o cineasta Glauber Rocha saiu proclamando que o general era o gênio da raça e outros delírios falou-se que ele estava louco, mas nada como um dia após o outro; a hegemonia da mediocridade nos dá gastura e as profecias do general Geisel parece que estão se materializando. Pronto! Me ofereço para ser crucificado como um reacionário nostálgico da ditadura.
Se não produzo um bom poema é porque não estudo, não pesquiso, não o reescrevo verso por verso à exaustão até que as imagens se corporifiquem com nitidez, um bom poema exige suor e trabalho duro, mas é natural, é muito mais fácil pra mim e maus poetas camuflarmos nossa indolência e culparmos as pobres musas por nossa mediocridade.
, A democracia, assim como um bom poema, exige dedicação e trabalho duro, mal comparado o populismo político é como os sub-literatos nunca encara de frente os problemas e elege entidades míticas, conspiradoras como responsáveis pelos seus fracassos. Assim é que o imperialismo é o responsável por todas as nossas mazelas. Convenhamos, decididamente, não é, esta é uma balela mais manjada do que a gostosa e saudável posição de cagar de cocaras segurando-se em galhos de arbustos.
Pimenta nos olhos dos outros é refresco. A sabedoria do povo é insuperável, eu vibro com o delírio do grande Melgarejo porque a rainha Vitória jactava-se de ser a soberana de um império onde o sol nunca se punha, tudo legal, mas isso não impediu que um mestiço semi analfabeto humilhasse o seu representante e isso dá um limite à arrogância humana. É provável que Melgarejo fosse um produto das maquinações dos agentes ingleses e que se o poder não o tivesse enlouquecido, ele tivesse morrido de álcool e sífilis e rodeado de netos. A marinha inglesa não destroçou Sucre como a rainha Vitória ordenou, porque como se sabe Sucre está situada no altiplano a mais de dois mil metros de altitude longe do alcance dos canhões, então os ingleses financiaram conspiradores que destituíram Melgarejo e o mataram às margens do lago Titicaca, quando ele tentava fugir para o Peru.
Dá a impressão de que Evo Morales inspira-se em Melgarejo, dando razão ao general Geisel; “os bolivianos não são sérios”, ele não cultua uniformes militares, mas se fantasia com elegantes modelitos inspirados na cultura quéchua e elege o imperialismo como o responsável pelas mazelas bolivianas, este delírio atinge o paroxismo quando culpa o sub-imperialismo brasileiro como inimigo a ser combatido e encampa obsoleta refinaria da Petrobras, revoga contratos e o escambau a quatro, por solidariedade ideológica o Brasil amofina-se e o genial Francisco Buarque de Holanda proclama; “O Brasil deixou de falar fino com os ianques; e não fala mais grosso com os nossos pobres vizinhos” provando que os gênios também produzem esquizofrenias, o diabo é que existem os que acreditam nelas.
Os delírios de Evo com a solidariedade brasileira enriquecem o retabulo populista latino americano e nos levam do nada ao lugar nenhum do subdesenvolvimento e da pobreza moral e material, mas este teatro do absurdo precisa se retroalimentar com mais elementos da farsa ou da opera bufa.
O senador Pinto de Molina diz que era amigo de Evo, jogavam futebol juntos, bebericavam chincha e cerveja e tudo mais. Só o diabo sabe a origem das suas divergências, o certo é que um acusa o outro de ligações com o narcotráfico, tendo menos poder e ciente da histórica práxis boliviana o senador Molina pede asilo na embaixada brasileira que o acolhe. E a farsa precipita-se.
Por pura birra de ditador caricato Evo recusa o salvo conduto ao desafeto, e num voluntarismo paranoico que faz os ossos de Melgarejo sambarem manda invadir aviões da FAB que transportavam o ministro da defesa do Brasil suspeitando que este alcovitava a fuga de Molina, convenhamos, aí já é uma esculhambação provocativa, mas por solidariedade ideológica mais uma vez o Brasil amofina-se, não se pode falar grosso com nossos pobres, fanfarrões e deseducados vizinhos. Os súditos da rainha Elizabeth tem o direito de me gozar; “um descendente de Melgarejo tá devolvendo a vocês as 30 chibatadas do nosso embaixador.” E só me restaria rir com eles.
A farsa ameaça transformar-se numa tragédia, o embaixador não suporta a pressão e entra em cena um diplomata do segundo escalão, Eduardo Saboia, que ouvindo a voz de deus resolve tomar uma decisão e promove a fuga do refugiado através de quase dois mil quilômetros de território boliviano ludibriando a competente policia do aprendiz de Melgarejo, procede-se o milagre da multiplicação da gasolina.
A despeito de ter seguido a orientação de deus, podemos considerar o diplomata Eduardo Saboia, se não um herói pelo menos um homem sensato; consciente dos seus parceiros canastrões muniu-se de provas para preservar a sua carreira e sua dignidade. Parece que ele previa os chiliques de prima dona da senhora Dilma Roussef e justificou-se comparando a sua condição a de um carcereiro do DOI-CODI.
Nelson Mandela passou quase trinta anos preso pelo regime do apartheid, grande parte deste tempo incomunicável, a sua incontestável liderança o credenciou como agente da transição deste odioso regime para a conciliação, para a aceitação de uma realidade histórica, um imperativo categórico; negros e brancos da África do Sul estão fadados a viverem juntos. Evidente que ainda tem muito o que se superar, mas é admirável o que já se construiu, sem duvidas nenhuma graças à grandeza de Nelson Mandela que empenha toda a sua força moral para conter ódios e ressentimentos, não se tem noticias de Nelson Mandela lamentando injustiças passadas e estimulando descabidas reivindicações. Sacudiu a poeira, deu a volta por cima e apontou o futuro.
Que falta faz ao Brasil um estadista deste quilate. Aos trancos e barrancos, tão somente graças `a generosidade e criatividade da nossa gente temos conseguido equacionar variadas contradições,temos tudo para deslanchar e dar exemplo a outros povos, mas a intrigalhada política insiste em cutucar cicatrizes, estimular a insensatez e a fomentar ódios artificiais, em vez de apontar o futuro teima-se em chafurdar em inglórias passadas.
Só assim compreende-se a açodada atitude da senhora Dilma descredenciado o diplomata Saboia; “estive no DOI-CODI e posso garantir que existe uma distancia entre o céu e o inferno entre um DOI-CODI e a nossa embaixada.” Esta provocação gratuita a certos militares só comprova o caráter de pequeno burguesa sem estofo cultural, sem visão da realidade, sem compromissos com as nossas instituições da senhora presidente, ela confunde as liturgias do cargo com a sua difusa ideologia.
Se não superarmos a miséria moral do populismo, exigindo dos nossos dirigentes compostura para que eles cessem de construir dissensões no campo, entre índios e quilambolas, entre categorias profissionais, é de uma maluquice patética esta tentativa de jogar a população contra os médicos por interesses politiqueiros ou para justificar a contratação de sub cidadãos de uma ditadura insana e insensata. Precisamos construir uma política externa realista, moderna que deixe bem claro, principalmente para nossos pobres vizinhos, que temos a democracia como um valor fundamental para construirmos um futuro de paz. Se não superarmos a miséria moral do populismo só nos resta responder a Caetano Veloso; nossa pobre América católica está condenada a chafurdar com ridículos tiranos.
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