Mistérios
Muitos anos atrás comprei uma fazendinha na Bahia. Na verdade, pelos padrões das áreas nesse grande país, algo como um sitio maiorzinho. Sem grandes reflexões, pelos valores menos robustos se pedia por aquelas bandas, bati o martelo.
E a ficha só caiu no retorno a Sumpa.
Que p... vou fazer com aquilo?
Lá vão 30 anos desde o evento, com um cunhado dedicado criamos lá um gadinho. Não há sobras para mim, mas não há perdas.
Jamais permiti que se cortassem árvores, hoje há em torno de 100 hectares de mata genuinamente e naturalmente recomposta. E o restante é pasto para os quadrúpedes. Tudo movido por apenas um funcionário (e confesso não conheço o mistério de como aquele sujeito maneja 230 animais, mas funciona). De tempos em tempos há umas empreitadas contratadas para “roçar as mangas”, ou seja limpar os pastos e consertar as cercas.
A patroa fez uma bonita reforminha na sede, transformando o depósito de cacau (não mais usado pois a cultura foi perdida pela vassoura-de-bruxa) em um quarto e sala.
De tempos em tempos apareço por lá, olho as coisas, me alegro com a mata cada vez maior e mais densa. Fico na ilusão de estar sem débitos de carbono, devolvendo oxigênio em maior quantidade que produzindo gás carbônico. Global warming não é comigo...
Fica como algo que a natureza se encaminha de manter. Os poucos animais criados interagem pacificamente com a área, há pássaros em abundância e pela mata outros bichos. Porém os caçadores, essa praga, andam por lá, assim ouço.
Às vezes penso em vender, todavia como se diz, há de se deixar algo para a viúva e os netos. Um filho agrônomo também recomenda não vender, afinal apesar do bom emprego por São Paulo, diz ele “nunca se sabe” e poderia assumir aquilo para produção mais intensa.
Os filhos por grande sorte minha escolheram todos seus caminhos autônomos. E assim vou cuidando daquilo, a meu jeito.
Não sou fazendeiro, apesar da origem dos pais ser campestre (porém preferiram se afastar das vidas rurais na fria Alemanha, abraçando empregos na indústria e imigração para o Brasil).
Hoje, olhando para a mata molhada, após alguns escorregões nos caminhos enlameados, pensei comigo: por que comprei esse troço? Desejo de posse, fazer algo diferente dos pais, investir? Não sei.
Mas está lá. Bonita.
Que fique assim.