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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Seria “A Maldição Libanesa”?

Emocionantes os momentos de tensão nas demonstrações do povo contra os políticos (resume-se a isso), nesses dias, por terras brasileiras. Em alguns instantes apostei em mais coragem dos afoitos, quando decidiram invadir e ocupar o Itamaraty.

Apesar do locutor da rede do "bispo" Edir dizer tratar-se de dilapidação e depredação do “patrimônio público” e demais basófias, diante do ultra-cabide de empregos e viagens de luxo, sem responsabilidades, que é o serviço diplomático (no fundo só se preocupam onde serão “instalados", o carro que terão, o valor da diária e se a cidade agrada), um fogozinho ali faria bem à turma.

Mas quem sou eu para incitar ao “Reichstagbrand” do Cerrado...

Porém logo adiante, diante dos comentários a presidente Dilma já havia saído do Palácio do Planalto e no Congresso somente os meganhas e siguranssas estavam presentes, repensei e repudiei a afirmativa sobre a grandeza de estadista do antecessor de Dona Menina.

Na verdade ocorreu, com similar defasagem, a “Maldição Libanesa”.

Paulo Maluf, de origem libanesa, em determinado momento de sua bizarra carreira política, decidiu criar um personagem, a sucedê-lo na prefeitura da cidade. Forjou Celso Pitta.

Espectro político anterior do sujeito: nenhum. Economista e parece bem eficiente como funcionário do grupo Eucatex, Paulo conseguiu elegê-lo com seu carisma e grande aceitação entre a reacionária classe média paulistana. Foi uma catástrofe, Pitta não soube defender-se das raposas políticas da assembléia municipal, seu apelo era de um poste sem luz e até a esposa, certa debochada e um tanto mundana criatura, acabou expondo o coitado a um fim triste.

Lula pelo visto pensou em superar o mestre, ambos políticos das mesmas plagas. Com alguém no estilo Pitta (uma mulher, fora dos quadros tradicionais do partido, com alguma experiência administrativa), enfim: um monstro político. Todavia com charme zero e, suplementarmente, péssima em tentar cativar o público. Apesar da já conhecida deficiência, ser senhora levemente grosseira, porém manobrável. Entretanto inteligente a ponto procurar discretamente distanciar-se de seu Dr. Frankenstein.

Não funcionou. Não se criam lideranças políticas, elas são autênticas ou não se mantém. É como o orgasmo nos homens, não há “fake”.

E pelo visto Lula insistiu na teoria. Vitorioso novamente, fez do absolutamente desinteressado mas agradecido Haddad, filho de São Paulo, seu prefeito. E que no primeiro teste de força, onde poderia ter demonstrado sua competência, apresentou-se inseguro e acuado, cedeu, mas com as bobas e impensadas ameaças de praxe: voltar atrás nas tarifas seria corte em verbas e investimentos futuros.

Com a emblemática foto de Paulo Maluf, Lula e Haddad ajustando o acordo para eleger o ex-ministro da Educação (cargo onde pouco se destacou), pensei comigo: isso não funciona. Não se criam lideranças políticas do nada (e os cargos exigem isso)!

Imagino a resposta aí está. Lula mostrou-se apenas um bicho político a desejar poder continuar dirigindo com seus avatares a nação. Dilma é fraca, apesar do partido a promover como “gerentona”; não passa hoje de assecla mal conduzida por Lula, esse que estranhamente mancomunado com as grandes empreiteiras transforma a ex-guerilheira em despachante de luxo para essas empresas gigantes, e sua rede corrupta, a garantir as obras caríssimas para as copas de futebol.

O perfil do eleitor também mudou, Lula se perdeu nisso. Em 2003 redes sociais eram coisas de intelectual metido à besta, hoje elas fazem revoluções. E os filhos de seus muitos eleitores nordestinos mais ingênuos já acessam a Internet, graças às condenadas privatizações de seu antecessor. O caldo transbordou com os 20 centavos de tarifa de ônibus e trens, adicionais, na maior cidade do país. Deu no que deu.

Dilma e Haddad, assim como seu Dr. Frankenstein, fizeram cara de indignados e assustados. Sumiram, aconselhados pelo Rasputin João Santana. Esse a elucubrar como fazer a colheita de tanta gente reunida, em benefício de seus contratantes. Falhou.

Não há como, ele é corretor de imóveis, por profissão. Não é um pensador nem é também estadista. Vende a eleição, não vende a visão política nem a capacidade administrativa.

O positivo pode ser dessa crise imensa surgirem verdadeiras e autênticas lideranças, como a menina do MPL ou talvez a, para mim infelizmente pouco consistente, Marina Silva. Os demais podem recolher as montarias das intempéries, por algum tempo.

Pouco a ver com a certa maldição libanesa do filme Caramelo, de Nadine Labaki. Mas há coisas similares.

Comentários (clique para comentar)

Izabel Delmondes - 24/06/2013 (09:06)

Belas considerações Thomas, parabéns!