O que imaginamos não existe
Sou um homem mais velho; acredito ter vivido aquilo que, talvez, me dê microscópica autoridade (palavra que odeio) de afirmar, em discreto e bom tom: o Deus bondoso que imaginamos não existe.
Blasfêmia? Não me eximo da acusação, hoje sem maiores consequências no que chamamos de parte civilizada do planeta, excluídas as regiões onde a fé complica a mente em demasia, como no Texas ou no Oriente Médio.
Mas fico a pensar sobre a crueldade desta instituição, o Deus, quando modestamente analiso recentes fatos, deste e do século passado.
Observei, amedrontado, em filme a mim enviado pela internet, o ato de decapitação, fria, como se executado em bode de oferendas, de um outro mais velho, como eu, o engenheiro Armstrong, lá pelas bandas de Bagdá, alguns anos atrás. Ao final, os algozes depositam a cabeça da vítima sobre seu próprio corpo, um fútil gesto de arrependimento, imagino.
O motivo político, que seja, é de uma aberração tal, que os próprios executores, em algum escaninho de suas perturbadas mentes, me parecem arrepender-se, no momento em que cobrem os olhos do inocente antes do vil ato.
Por sinal, a lembrar o carrasco da Ana Bolena que, irado, ao verificar que o fitava (penso que com lindos olhos), gritou “Não me olhes!”
Prática comum também entre os nossos violentíssimos assaltantes: “Não olha não, rapaz!” O covarde não sustenta olhares e, sabemos, o criminoso, o carrasco, o terrorista ou outra coisa, no fundo não passam disto. Sem suas armas são damas assustadas.
E daí a prova, que aquela Criatura ou Instituição, ou seja lá o Que for, que adoramos em nossas preces quase sempre um tanto inúteis, em templos caros construídos com a suada prata dos fiéis irmãos, não é de infindável bondade, justiça e nem nos acolhe em seus eternos braços e abraços, no imaginário céu de nuvens, anjos e harpas.
Nem ao menos coibiu a violência contra aquele que chamar-se-ia de Seu Filho, o venerado Cristo. Este sim, Sujeito merecedor de nosso maior respeito, pois pregado à cruz, em tortura terrível, ainda mostrou grandeza a pedir ao alegado Pai perdoar a turma que O maltratava.
Se nos envia depois criaturas como A. Hitler, Emílio Medici, George W. Bush, Osama bin Laden, o Beira-Rio e a goiana torturadora de meninas, em frequência desproporcional aos ditos bons, seja Irmã Dulce ou o Mahatma Ghandi, o Sujeito, e todo respeito, deve estar em conflito Consigo; a analisar, portanto, nossa fé, se sempre correta em relação a este Camarada.
O maluco Nietzsche ousou declarar que Deus estava morto. Além de doido pela sífilis foi dos maiores filósofos a passar por cá e tenho para mim, agora ao desligar o microcomputador e ainda imaginar o sofrimento do engenheiro gringo, que talvez Deus não tenha morrido, mas seja de fato semelhante a nós, sem grandes bondades, justiças ou infinita sabedoria.
Sem escrever reto por linhas tortas, apenas escrevendo errado, como todos nós feitos à Sua semelhança.
Da forma O imaginamos, bem, aparentemente não existe.