Foto do Hermógenes

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Uma outra hermenêutica do ser sendo...

Por Nívia Maria Vasconcellos, de Feira de Santana, Bahia.

...ou me deixem quieto no meu canto.

Não venho aqui falar do ser-em-si de Heidegger nem tampouco discutir os conceitos de liberdade sartreanos. Hoje não estou a fim dessas profundidades todas. Hoje sou superfície, epiderme. Que nada de subcutâneo me contamine. Cansei de tormentas e susto. Hoje quero a mansidão do não pensar. Em vez de eu ir da Liberdade à Consciência, quero agora apenas ir da Consciência que me perturba a Liberdade de não tê-la. Não desejo me desprender da filosofia por hora por achá-la inútil, mas por vê-la tão útil. Neste momento, não quero nada que externe utilidade: não quero a poesia, não quero linguagem, não quero o saber. Queria mesmo ser aquela tabula rasa que certo Locke defendia. Vou escrever o “Ensaio acerca do desentendimento humano” que, como eu, não servirá para absolutamente nada. Não me venham com versinhos de grandes poetas, a mim pouco me importa “o engenho e a arte”. Definitivamente, deu-me uma vontade imensa de queimar meus livros e os escritos principalmente. Não estou a fim de ler ou conversar sobre nada. Acho que ligarei a TV nestante. Ela me ajudará bastante. E, se não der certo, vou dormir. Tomara que nenhum sonho engraçadinho venha com elucubrações. Hoje não estou nem para Dali nem para Rubens. Quero o descanso, a paz que só a ignorância é capaz de dar. Entre a livraria e o parque, prefiro ao parque. Eu numa montanha russa só me importando em gritar e em descer dali: mais nada! Não me venham com cappuccinos ou vinhos. Se querem me dar algo que me dêem uma carabina... não! muito grande, uma semi-automática. Pronto. Meu mundo por uma semi-automática. Cogito ergo sum?... À merda, Descartes. Cogito e morro. Fim. Romeu por favor... deixa um pouquinho para mim.... Ai meu Deus... por que eu vim para esse canto da sala?

Nívia Maria Vasconcellos nasceu em 1980 em Feira de Santana-BA. É especialista em Estudos Literários, tendo finalizado o mestrado em Literatura e Diversidade Cultural, ambos pela UEFS-BA. Publicou o livro de poesia Invisibilidade (MAC, 2002) e o livro de contos ... para não suicidar (Littera, 2006). Ganhou o 7º Festival Vozes da Terra de Feira de Santana-BA, com a música Soneto que não queria existir. Logrou, em 2008, o Prêmio CDL de Literatura, que editou e lançou seu livro Escondedouro do Amor e Outros Versos sob a Espera (CDL, 2009). Além de poetisa e contista, é professora e integrante do grupo de declamação OsBocasDo Inferno.

A nova poesia, ou prosa poética. Nívia, algo novo no horizonte.

Comentários (clique para comentar)

Rose Oliveira - 14/03/2013 (16:03)

Professora Nivia, Parabéns pelo brilhante trabalho! Abraços,