Por quê?
Um amigo me conta sobre sua ira com relação às armadilhas-radar, fonte segura de arrecadação de empresas prestam esse “serviço” (com algum achaque, na realidade) à prefeitura de nossa grande cidade.
E a tal ponto chegou a ira, em vista da pilha de multas e o risco de não poder conduzir seu veículo, tomou atitude drástica. Organizou vendetta. Adquiriu traje de funcionário de manutenção, daqueles com faixas reflexivas, capacete, óculos de proteção e empurrando sua bicicleta, saiu pelo bairro. A pintar com potente "spray" as lentes dos aparelhos, impedindo sua utilização, porém sem maiores danos.
A namorada o acompanhou, fotografando a desobediência civil do sujeito. Caso raro.
Evidentemente o trabalho a empresa teve para limpar os aparelhos foi considerada “justa” reparação pelas multas pagas pelo amigo. Assim sua interpretação. Talvez manter o limite de velocidade ou utilizar o carro apenas fora do sistema de rodízio fosse mais simples...
E menos arriscado.
Todavia o planejamento, o deixar-se fotografar para os minutos de fama entre os amigos, a não parecer lorota, o investimento em tinta, uniforme, capacete e fazê-lo pela madrugada, com seus riscos, foi motivo de conversa em divã.
E atenta a terapeuta, após o camarada discorrer sobre a curiosa batalha quixotesca, admirada com o planejamento, indagou, em certeiro cheque-mate:
-“Fez com alegria, por prazer. Venceu. Porém se lamenta sobre a pobre atuação profissional, nada planeja, não se organiza, revolta-se com competidores, é vingativo. O que pensa disso?”
O sujeito é corretor de imóveis, porém seu entusiasmo com a profissão é limitado, não cerca a caça com os devidos cachorros farejadores, nem anda bem armado. Talvez, desconfio eu, honesto demais para esse tipo de trabalho.
Alguns de nós são honestos, apesar de rareando.
Somos assim.