Envelhecendo
Hoje fui a uma reunião, de vizinhos em um condomínio de praia no Nordeste. Homens sérios, com temas sérios, preocupados com o bem morar naquela área. Gente de outras nações, de outros estados, de outras cidades.
O local é agradabilíssimo, todavia com seus problemas: segurança, ambiente e convivência. Homens e mulheres de certo poder econômico, boa parte com vidas confortáveis, alguns discretamente sofrendo da síndrome da riqueza passada.
E outros a fazer do condomínio negócio privado, a irritar os demais.
Pequenos empreiteiros a cavarem obras pela associação, porém de forma autoritária, sem consultar os demais. Certo administrador eleito a proteger sua pousada informal, irritando vizinhos com barulho, movimento e obras. Outro senhor a criar galinhas de raça, a fazer da cerca com o vizinho imenso galinheiro e a devida sonorização em horários pouco adequados. Um operador de spa, a imaginar construir pequenos prédios para acomodar hóspedes de longo curso. E ainda a senhora aluga sua casa para eventos imensos e intensos, casamentos, festas. Com geradores zunindo noite adentro, estacionamento a complicar a única estradinha do local, apimentando com som dos infernos.
Durante o apresentar dos dizeres dos senhores em reunião, um deles levantou as questões espinhentas, afirmando a necessidade, e endossando provavelmente todos concordariam, ser boa filosofia respeitar-se o espaço do outro em convivência agradável.
Nesses instante, outro senhor cortou o verbo detonando: eu não concordo com nada e sem filosofia, temos coisas mais importantes a colocar!
Silenciou o outro, respeitosamente. E a partir dali, pacífico é, procurou observar com certa parcimônia aqueles homens, alguns iniciando a se irritar pelo discutir de temas deveriam resolver-se, em seu ver, de forma distinta.
Homens ocuparam posições autoritárias no passado, tendem a mantê-las e irritarem-se com reuniões. Querem resolver exclusivamente à sua maneira. Em todos os momentos esses aposentados relembram discretamente suas ações do passado, as posições ocuparam ou até imaginaram ocupar, como dizer-se industrial, tendo sido diretor de empresa. Sabem sempre dos métodos corretos, os demais estão errados e devem ouvir e cumprir determinações.
Pensei em dizer ao sujeito ser apenas seu modesto vizinho, não seu subordinado. Porém as maravilhosas castanhas de caju, formosos beijuzinhos com queijo do reino ralado e suave gelada água de côco, além da linda casa do diplomata nato a tentar conciliar, fizeram-me lembrar do meu único e verdadeiro herói em vida:
Alfred Neumann.
Alguns saberão quem é, autor da mais importante frase da história dessa nossa América de norte e sul, os demais relembrem apenas meu dito:
Somos assim.
E somos mesmo.