Relato de uma experiência urbana e dita republicana revolucionária bolivariana.
De L. Bussius, em Caracas
Quase quatro semanas de pura Caracas. Ruidosa, caótica, intensa, com curvas e ladeiras amontoadas de carros e motos por todas as partes. O monóxido de carbono toma conta da atmosfera e a gasolina é um “regalo” do governo, paga-se centavos para encher um tanque de combustível fóssil sem refletir muito nos impactos desse processo. Só poderia ser um presente diário para esta população tão particular e ao mesmo tempo tão demasiadamente humana, como são os venezuelanos.
Por enquanto somente me aproximei de pessoas da oposição. Entenda-se como: Contra Chaves. Ricos e classe média. Em qualquer conversa que tarde um pouco mais de 10 min surge a famigerada política, e uma profunda tristeza nos discursos.
Violência, precariedade de infraestrutura, saúde e educação colapsando e uma revolta em ter que suportar um regime político que já se estende há 14 anos. Há murmúrios sobre manipulação dos resultados das eleições e também de corrupção avassaladora. Não existe muita esperança e todos querem ir-se do país. Estados Unidos, Europa, Brasil. Mas essa ideia corresponde a quantos por cento da população venezuelana? Talvez algo em torno de 10%? Onde estão a grande maioria de pessoas que vivem por aqui? Que pensam os venezuelanos sobre suas vidas? E sua política nacional atual?
Quando se comenta planos de ficar por estas terras tropicais, rodeadas de montanhas e com águas azuis caribenhas, surge um estranhamento. Por que raios vir e morar nesta cidade? Nesta desordem, neste governo tão hipócrita? Nestes índices tão altos de criminalidade...
Amor? Experiência? Pulsão de morte? Desejo de mudanças e outras realidades? Política? Ideologia? Projetos sociais? Comunitários? Palavras vazias? Por aqui algumas estão sem valor. Já foram fatigadas de expressar ilusões, promessas e desenvolvimento social... O que foi feito de melhoria na qualidade de vida deste povo? A desigualdade sempre fez parte deste território. História de exploração muito semelhante com o Brasil e demais países da América Latina. Culturas mescladas e muita força imposta a dentes fervorosos afoitos por recursos naturais e minerais. Hasta hoy...estamos meio mal das pernas...como dizemos coloquialmente de onde venho...
Qual seria a forma de compreender melhor esta situação? A paranoia é reproduzida nas “charlas” de desconfiança, indignação e principalmente: medo. Limitamos nossa existência por temermos a morte, a desapropriação, o roubo, a violação dos direitos, a violência.
Es asi...Una cuestión caraqueña.